Manifestantes criticam arcebispo que excomungou responsáveis por aborto em menina

08/03/2009 - 17h14

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A posiçãoda Igreja Católica, que excomungou a mãe e os médicosque fizeram aborto em uma menina de 9 anos, grávida de gêmeos,depois de estuprada pelo padrasto, foi muito criticada durantemanifestação de mulheres realizada hoje (8) em SãoPaulo. O caso ocorreu no interior de Pernambuco.Representantes do movimento feminista distribuíramfolhetos com a foto do arcebispo de Olinda e Recife, dom JoséCardoso Sobrinho, nos quais lembravam o tipo de aborto feito namenina foi legal e está previsto em lei, Os panfletos diziamainda que o fato poderia ter tido um final diferente se o Estadobrasileiro reconhecesse e legalizasse o aborto. “Pregar sua doutrina no interior dos templos éum direito legítimo de todos os religiosos. Agora, quando umrepresentante da Igreja Católica Apostólica Romanatenta interferir nas decisões da Justiça, ou faz essasdeclarações à imprensa, está claramenteprocurando exercer inapropriada influência pública sobreo Estado laico, construindo um discurso de intolerância eintransigência oposto à idéia de vida que alegadefender”, ressalta o movimento.A pesquisadora da Universidade de Campinas(Unicamp), Mariana Cestari, uma das coordenadoras da manifestaçãode hoje, explicou que a bandeira do movimento pela legalizaçãodo aborto expressa “uma questão de direito ao nosso corpo”.“Hoje temos mais de 1 milhão de abortosprovocados por ano no Brasil. É uma realidade. E criminalizarou tratar como criminosas as mulheres que realizam abortos nãosignifica diminuir esses números”, disse Mariana àAgência Brasil.Segundo ela, as mais prejudicadas com a criminalizaçãodo aborto são as mulheres negras e pobres, que realizam essascirurgias de forma clandestina e em condiçõesprecárias, que podem levar à morte.Na questão específica da garota de 9anos que fez o aborto, Marina diz que é preciso refletir sobrequal a vida mais importante a se preservar: da própria meninaou dos filhos gêmeos que ela teria. “Quando se defende a vida, de que vida se fala?Defende-se a vida de fetos ou de uma menina que está grávida,depois de estuprada pelo padrasto? A vida dela está pública,escancarada, excomungada. E por que o estupro não éexcomungado pela Igreja? E não estamos nesse caso falando deum aborto ilegal. A posição de excomunhão foilamentável”, afirmou.Também a coordenadora estadual da UniãoBrasileira de Mulheres, Rosina Conceição de Jesus,afirma que o aborto não pode ser criminalizado. “Nãopodemos conceber que a Igreja acabe achando que é um outroEstado e queira criminalizar nossas mulheres.”