Preservação da Amazônia pode evitar eventos climáticos extremos no país, diz pesquisador

15/01/2009 - 0h24

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apreservação da Amazônia pode evitar eventosclimáticos extremos no centro-sul do Brasil, por causa dopapel da floresta na manutenção do equilíbrio doclima na América Latina. De acordo com o pesquisador doInstituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Antonio Nobre, a floresta tempapel fundamental no equilíbrio do sistema hidrológicoda região.

“Nofuncionamento do clima na América do Sul, a Amazônia temum papel muito grande na exportação de umidade, por meioda atmosfera, dos ventos. As nuvens saem da Amazônia parairrigar as regiões no centro-sul da América Latina:Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, norte da Argentina. Toda essaregião depende das águas que vêm da Amazônia”,apontou Nobre em entrevista à Rádio Nacionalda Amazônia.

Deacordo com dados do pesquisador, por dia, a Amazônia chega ajogar na atmosfera 20 bilhões de toneladas de água em forma devapor.

Obom funcionamento desse sistema de regulação do regimede chuvas depende da manutenção da floresta em pé,sem desmatamentos, segundo Nobre. “O que está em curso hojeameaça gravemente o funcionamento dessa máquinagigantesca”, avaliou.

Ocientista compara o desmate da Amazônia à retirada departes do fígado de uma pessoa que ingere muito álcoole depende do bom funcionamento do órgão para serecuperar dos excessos. “A floresta amazônica é como umfígado gigantesco, uma bomba, um pulmão. As árvorestêm um papel muito importante no funcionamento da atmosfera, dotransporte de água, do clima. E o que estamos fazendo écomo cortar um pedaço do fígado, que passa a ter muitomenos capacidade de lidar com os abusos, que nesse caso são oaquecimento global e todas as agressões que sãodecorrentes da atividade humana na Terra”, explicou.

SegundoNobre, apesar de não ser possível traçarprecisamente uma relação direta entre o desmatamento dafloresta e as recentes chuvas que atingiram Santa Catarina, porexemplo, a ocorrência de eventos climáticos extremoscomo esse está relacionada a um desequilíbrioambiental, que pode ser evitado.

“Oque a Amazônia provê não são apenasserviços [ambientais] para o cinturão agrícola,para as hidrelétricas, para a atividade industrial; o que aAmazônia provê é um sistema de estabilizaçãoclimática que consegue manter a região toda emequilíbrio. Não se tem nem excesso de água nemfalta. E também impede que ocorram secas prolongadas, quecriariam os desertos”, acrescentou.

Nobredefende que, mesmo diante de incertezas científicas, há fatos suficientes para justificar a demanda urgente pelapreservação. “O que a ciência já sabe é mais do que suficiente para comprar várias apólicesde seguro. E o seguro se chama proteger a floresta. Estamosdestruindo o sistema hidrológico e o clima da América doSul”, alertou.