Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Centenas de ex-alunos da Universidade de São Paulo e moradores do Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp) entre os anos de 1963 e 1968 estão reunidos hoje (29) no Colégio Notre Dame, em São Paulo, para rememorar os 40 anos da tomada e ocupação do local pelo Exército em 17 de dezembro de 1968, quatro dias após a decretação do AI-5. “A importância principal desse evento, hoje, é o reencontro social: matar as saudades, rever as pessoas, conversar com as pessoas mais queridas. Mas não deixa de ter outros dois aspectos que gostaria de ressaltar: o político, já que não dá para fazer uma reunião de cruspianos sem ter uma conotação política porque todos nós, de uma forma ou de outra, lutamos pela democratização do país na época; e também o aspecto de ser uma reconquista histórica do processo”, disse Rafael de Falco Neto, que foi aluno na USP em 1965 onde cursou a Escola Politécnica. Aos 62 anos, Falco Neto é atualmente um pequeno empresário, mas entrou para a história do Crusp como o primeiro presidente da Associação dos Universitários Rafael Kauan, uma das primeiras entidades estudantis a surgir no local. “O que marcou a minha vida universitária foi o Crusp. Tive uma militância do ponto de vista estudantil muito forte”, disse. Segundo ele, os primeiros anos vivendo na moradia estudantil foram tranqüilos, sem enfrentar o regime militar . “O Crusp ainda não tinha se tornado um centro de mobilização estudantil como veio a se tornar depois. Nesse período, nossas principais reivindicações eram a melhorias das condições de vida: tínhamos apartamentos bem modestos, com comida relativamente ruim, sem um campo de futebol digno desse nome. Nossa briga era mais por isso”.A mudança, segundo Remo Alberto Favorini, veio a partir de 1966. “A partir desse ano, a gente se organiza contra a ditadura, que se arma contra a gente”, lembrou ele, que morou no Crusp entre os anos de 1964 e 1967. Favorini é hoje um professor aposentado de 66 anos.“O Crusp foi invadido várias vezes até a invasão final, em 1968, quando foi totalmente evacuado”, disse Favorini, ressaltando que esteve presente em todas as invasões, com exceção da última. “A violência era total. Muitos de nós estávamos dormindo, estudando. A porta era aberta a pontapés. Não havia arma de fogo, mas o cassetete corria solto, sem qualquer explicação, em nome da segurança nacional”, lembrou.Para Falco Neto, o Crusp acabou facilitando a movimentação estudantil por agregar estudantes de várias faculdades da USP. “Na realidade, o único movimento organizado que tinha condições de colocar uma posição crítica à ditadura era o movimento estudantil. E acho que cumprimos bem a nossa função na época”, afirmou.Embora tenha sido projetado para abrigar os estudantes da USP de fora de São Paulo e sem condições financeiras para morar na capital durante a conclusão do curso, o Crusp só foi construído em 1963 diante da necessidade de abrigar os atletas que participaram dos Jogos Pan-Americanos realizados neste mesmo ano, em São Paulo. Quando foi ocupado, em 1968, cerca de 1,4 mil estudantes moravam no conjunto residencial.