Luciana Lima
Enviada especial
Roma (Itália) - O presidente LuizInácio Lula da Silva defendeu hoje (10), na Itália, arevisão das regras contidas no Consenso de Washington. Empronunciamento à imprensa, ao lado do presidente italianoGiorgio Napolitano, Lula enfatizou que o foco da economia deve ser otrabalhador e a produção e não a especulaçãofinanceira. “Penso que essa criseé uma oportunidade extraordinária para fazermos umareflexão sobre tudo que fizemos de errado a partir do Consensode Washington. E criarmos um outro consenso em que o ser humano, otrabalhador a produção agrícola, industrial,cultural científica e tecnológica sejam a razãode ser da economia e não a especulaçãofinanceira”, disse Lula depois de conversa reservada de 40 minutos com o presidente italiano.Lula chamou oex-integrante do partido comunista da Itália de “carocompanheiro” e enfatizou que os governos devem “ouvir menosanalistas de mercado” e prestar mais atenção nosproblemas sociais. “Meu caro companheiroGiorgio Napolitano, na Assembléia Geral das NaçõesUnidas eu disse que para resolver a crise era chegado o momento dapolítica. Eu penso que nesse momento os governantes precisamentender que nós precisamos ouvir menos analistas de mercado emais analistas dos problemas sociais, analistas de desenvolvimento eanalistas que conheçam as pessoas humanas”, disse Lula.Chama-se de Consenso deWashington o conjunto de dez regras de cunho neo-liberal. Formuladoem novembro de 1989 por economistas de instituiçõesfinanceiras baseadas em Washington, essas regras serviram de basepara a política oficial do Fundo MonetárioInternacional na década de 1990, e eram impostas aos paísespobres em dificuldades como condições para receberemrecursos. O neoliberalismo prega que o funcionamento da economia deveser entregue às leis de mercado e que a presençaestatal na economia inibe o setor privado e freia o desenvolvimento. Entre essas regrasalgumas adotadas na década de 1990 no Brasil como a aberturada economia por meio da liberalização financeira ecomercial e da eliminação de barreiras aosinvestimentos estrangeiros, privatizações, reduçãode subsídios e gastos sociais por parte dos governos edesregulamentação do mercado de trabalho, para permitirnovas formas de contratação que reduzam os custos dasempresas.A visita àItália servirá para que Lula também cobre dasautoridades italianas apoio para que o Brasil passe a integrar oConselho de Segurança da Organização das NaçõesUnidas. Lula apontou o cenário de crise mundial como motivopara que os países ricos “não tomem mais sozinhos asdecisões” sobre a economia “Precisamos reformar asinstâncias decisórias internacionais e atribuir maisvoz, vez e voto aos países em desenvolvimento, sob pena de nãodispormos de mecanismos adequados para combater a crise”, disse.Esse é o tema que Lula pretende abordar no encontro com o primeiro-ministro da Itália,Silvio Berlusconi, previsto para amanhã. A visita éestratégica porque no início de 2009 a Itáliaassumirá a presidência do G8. Hoje, ao ser recebido porNapolitano no Palácio Quirinale, residência oficial depresidente, Lula adiantou o pedido.“Quando encontrei como primeiro-ministro Berlusconi, em julho, no Japão,conversamos sobre uma maior participação do Brasil edos países em desenvolvimento nos debates da cúpula daIlha Madalena. Amanhã, vamos retomar esse tema. Não fazsentido que os grandes temas que afetam a humanidade sejam debatidosapenas pelos países ricos”, disse Lula.