Valorização do dólar derruba ações da Sadia e da Aracruz

26/09/2008 - 20h40

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A valorização do dólar no mercado financeiro brasileiro derrubou as ações das empresas Sadia e Aracruz nesta sexta-feira (25). As duas empresas apostaram na baixa do dólar e realizaram contratos futuros na expectativa da não valorização da moeda norte-americana. Se o dólar caísse abaixo do que foi contratado, as empresas obteriam lucro. A manobra é conhecida como hedge. No entanto, com a crise financeira internacional, a moeda norte-americana se valorizou no pais e se elevou, apenas em setembro, cerca de 18%. Hoje, as ações da Sadia despencaram 34,51% e da Aracruz, 15,10%. Em nota, a Sadia informou que as operações da empresa relacionadas à variação do dólar proporcionaram perdas de R$ 760 milhões. A instituição ressalvou porém que as perdas limitaram-se à operação financeira da empresa e não afetou em nada suas atividades industriais e comerciais.  "O Conselho de Administração, diante do agravamento da crise internacional na última semana e da alta volatilidade da cotação da moeda norte-americana, determinou o reenquadramento da exposição da companhia aos padrões previstos pelas políticas e optou por liquidar antecipadamente as operações, apurando perdas financeiras de R$ 760 mihões. A liquidação foi feita com caixa próprio da Sadia e a empresa já tomou linhas de crédito de modo a garantir a normalidade de suas operações", diz a nota.A Aracruz reconheceu também prejuízo em decorrência das operações cambiais. A empresa afirmou, em nota, que um consultor externo será contratado para apurar o valor das perdas.       Apesar do impacto da crise financeira norte-americana nas empresas brasileiras, o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP), Roy Martelanc, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil, que o país está em boa medida protegido dos problemas enfrentados pelo mercado financeiro americano.      "O Brasil é um país muito isolado ainda, segue as teorias econômicas da década de 50, 60 e 70, em que segmentava seu mercado financeiro. Os fundos de pensão nossos têm uma limitação muito grande para conseguir investir fora. Esse isolamento no sistema financeiro que nós temos até hoje, nesse caso nos protegeu", explicou.O professor ainda considerou que os juros altos do país servem como um escudo à contaminação da crise financeira norte-americana. "O Brasil paga a maior taxa de juros do mundo. Então se você é um banco brasileiro, para que que você vai comprar um papel subprime que, seja lá o que for, paga menos que o governo brasileiro", disse.