Índios reivindicam participação em discussões sobre demarcação em MS

17/09/2008 - 19h09

Vinicius Konchinski
Enviado Especial
Dourados (MS) - Índios da aldeiade Dourados (MS) afirmaram não estar satisfeitos com a formacom que a Fundação Nacional do Índio (Funai) e ogoverno sul-mato-grossense firmaram o acordo sobre a demarcaçãode reservas na região sul do estado. Líderes dacomunidade, uma das mais populosas de Mato Grosso do Sul, reclamarampor não terem sido convidados para o encontro que fixou novasdiretrizes para os estudos que determinarão quais as áreasserão demarcadas e, além disso, demonstrarampreocupação com os resultados do trabalho.“A demarcaçãotem que ser discutida entre três partes: governo, Justiçae indígena”, afirmou Getúlio Juca de Oliveira,cacique Kaiowá da aldeia, em entrevista concedida à Agência Brasil na terça-feira (16). “Se oíndio não for ouvido, tekohas [locaisde convivência tradicional, em língua Guarani-Kaiowá] ficarãode fora das reservas, e o trabalho vai ter que ser feito de novo.”"Quando a gente ficasabendo que vai acontecer alguma coisa, ela já aconteceu”,complementou a Alda Silva, que também vive na aldeia. “Osfazendeiros foram a Campo Grande fazer manifestaçãocontra a demarcação. A gente queria irpara pedir nossa terras, mas ninguém deu apoio”.Segundo eles, nenhumlíder da comunidade foi convocado para o encontro realizado nasegunda-feira (15), na sede do governo estadual. Contudo,representantes da Federação da Agricultura do Estado de MatoGrosso do Sul (Famasul), entidade declaradamente contra a demarcação,estiveram presentes.Oliveira afirmou que asolução da questão fundiária da etniaGuarani-Kaiowá é fundamental para a manutençãoda cultura e até para a sobrevivência das comunidadesindígenas. De acordo com ele, na aldeia de Dourados, porexemplo, cerca de 13 mil índios dividem uma área deaproximadamente de 3.500 hectares. “O que a gente pode plantar aquinão dá para todo mundo. Depois da colheita, tudo acabarapidamente e a gente sofre muito”, contou o cacique.Para Oliveira, opagamento de indenizações a produtores que têmfazendas em terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas,assim como o acordado entre a Funai e o governo do estado, pode atéfacilitar a demarcação. Ele ressaltou, entretanto, quecertamente haverá proprietários de terras que nãoaceitarão o dinheiro e não sairá por vontadeprópria dos territórios das reservas, mesmo apósos estudos.O cacique afirmou,porém, que os índios não farão concessões. “Queremos o que é nosso. Onde hánosso tekoha, o fazendeiro pode se preparar pois vamosreivindicar a terra."Até a publicaçãodesta reportagem, a Famasul não havia se pronunciadooficialmente sobre os resultados da reunião entre governo eFunai.