Setor quer participar de discussões sobre contingenciamento do gás

12/09/2008 - 21h03

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O presidente executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres, Ricardo Lima, pediu hoje (12) que um possível plano de contingenciamento de gás no país seja elaborado com a participação de todos setores que usam o produto. Ele teme a tomada de medidas unilaterais por parte do governo."Essa discussão está sendo feita dentro dos gabinetes em Brasilia. O consumidor, maior interessado em quais seriam as alternativas e quais seriam as medidas a serem tomadas, não está efetivamente participando da discussão. E não é durante a crise que vai se resolver isso. Precisamos chamar, de maneira transparente, todos os atores envolvidos com a questão para que cada um dê a sua contribuição para podermos ter um plano de contingenciamento que seja o melhor para todos", disse.Lima ressaltou que, apesar de o fornecimento de gás boliviano estar praticamente normalizado, o setor está apreensivo em relação a uma nova crise de desabastecimento. "São Paulo hoje não está sofrendo nenhuma restrição, a Região Sul também não. Mas a situação é de preocupação e de inquietação. Eu diria que muitas indústrias vão passar com suas equipes de plantão neste fim de semana", afirmou.O superintendente da Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro), Lucien Bernard Mulder, ressalta que o setor é um dos mais sensíveis à falta de gás. Segundo ele, os fornos das indústrias de vidro não podem ser desligados e são abastecidos somente a gás natural. Ele explica que o maquinário utilizado para a produção do produto não suportaria alterações de temperatura provocada por um desabastecimento."A indústria de vidro está de sobreaviso. Como desenvolver um plano de emergência se você é  totalmente dependente do gás natural", questiona. "O primeiro passo é garantir um fornecimento mínimo para a preservação dos fornos. Essa é prioridade", afirma Mulder. Dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado mostram que das 23 companhias de distribuição de gás no país, sete dependem exclusivamente do gás boliviano. Essas distribuidoras estão localizadas principalmente nos estados do Sul e Sudeste, onde ocorre o maior consumo, e nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.A indústria é a responsável pela maior parte do consumo de gás natural do país, cerca de 53,4%. Geração elétrica vem logo depois, com 25%; seguida da utilização nos postos automotivos (12,8%), cogeração (4,3%), consumo residencial (1,6%), consumo do comércio (1,1%) e outros (1,8%).Segundo professor do Instituto de Eletroeletrônica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), a preocupação com a interrupção do fornecimento do gás boliviano é exagerada. De acordo com ele, país hoje gasta erroneamente em termoelétricas um terço do gás importado da Bolívia."Em plena seca, os reservatórios estão cheios. Provalvelmente em dezembro, nós vamos jogar água fora, porque vai vir a chuva e não terá onde guardar água. Estamos queimando muito mal o gás nas termoelétricas, que foi política do governo e, se hoje nós pararmos as termoelétricas, você vai ter até um excesso de gás" diz.O professor enfatiza que a saída mais "inteligente" para a enfrentar a diminuição de fornecimento de gás seria a não utilização do produto nas termoelétricas. "O presidente Lula foi muito claro,  lá em janeiro, ao dizer que nós vamos utilizar o gás nas termoelétricas se tivermos ameaça de apagão. Hoje ele deveria falar na televisão a mesma mensagem, nós vamos desligar as temoelétricas se tivermos uma ameaça de 'apagás'", diz.