Fernando Henrique classifica Plano Real de democrático

09/09/2008 - 14h47

Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O mérito doPlano Real foi ter sido democrático, com respeito àpopulação e sem questionamentos jurídicos. Foi oque disse hoje (9) o ex-presidente da República e ex-ministroda Fazenda, na época do plano, Fernando Henrique Cardoso, emdepoimento gravado, exibido no seminário de comemoraçãoaos 200 anos do Ministério da Fazenda."Os planosanteriores eram tecnocráticos. Eram decididos nos gabinetes eninguém sabia de nada e aparecia do nada no DiárioOficial. A população tomava um susto. E o maior sustofoi o confisco das poupanças do tempo do presidente Collor. Osujeito tem a sensação de amanhecer mais pobre",disse Cardoso. O evento reúne todos os ex-ministros da pasta."Foi um choque noespírito tecnocrático. Mas achamos melhor apostar nademocracia. O Plano Real foi feito dessa forma: respeitando apopulação. Isso é político e pedagógico",afirmou.Segundo oex-presidente, houve apenas um questionamento jurídico dequestões técnicas que não tiveram resultado. Elelembrou que esses questionamentos em planos anteriores geraramprejuízos aos cofres públicos.Cardoso disse aindaque, na hora de definir o salário mínimo, imaginava-seque "mais uma vez o trabalhador iria pagar o preço daestabilização". Segundo ele, não foi issoque aconteceu, mas mesmo assim houve muita oposição emrelação à medida. Ele contou que, naépoca, convidou representantes de movimentos sindicais paraconversar sobre a proposta do governo. "No gabinete, elesconcordaram comigo porque dava um aumento de salário real.Eles sabiam, mas politicamente não queriam dizer isso",afirmou. O ex-presidente tambémrecordou uma conversa que disse ter, na época, com Luiz InácioLula da Silva e o então presidente do PT, José Dirceu."Eles perguntaram: há algum risco do PSDB disputar com oPT a presidência da República. Eu disse que não.Eu achava que não", afirmou. Segundo Cardoso, eles nãoderam apoio ao plano.No seu relato, oprimeiro problema encontrado quando era ministro da Fazenda foiorganizar a equipe. "Ninguém queria trabalhar noministério, pois acreditava-se que a inflação iacontinuar, que ele [o convidado a trabalhar no ministério]próprio iria se queimar e acabar com a carreira política."Montar uma boaequipe não quer dizer só gente de fora do governo. Senão houver dentro da burocracia pública gente boa, queapóia também, não resolve nada. A burocraciafazendária é boa. É preciso apoiar e motivar",disse.Outro problemaenfrentado, segundo ele, foi a moratória decretada no governoJosé Sarney e, por fim, convencer o Congresso que era precisocortar 50% das despesas. "Mas tínhamos outros problemascomo a memória inflacionária, pois todos aumentavam ospreços achando que a inflação ia continuar."