Especialistas criticam gestão pública na prevenção e combate à dengue

10/04/2008 - 20h32

Da Agência Brasil

Rio de Janeiro - O diretor daCoordenação dos Programas de Pós-Graduaçãoem Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, criticou hoje (10) a falta de prioridadepara políticas de saúde e de eficiência da gestãopública na prevenção e no combate àdengue. "Há desorganização, faltade planejamento e de política de saúde", dissePinguelli, ao participar, na UFRJ, de reunião em queespecialistas da área de saúde e tecnologia discutiramos desafios no combate ao Aedes aegypti, mosquito transmissorda dengue. Na reunião, também foi apresentado um modelode sistemas de informação desenvolvido pelauniversidade que poderá transmitir dados reais sobre asituação da dengue. "Havia evidênciade risco da epidemia muito antes e, se essas medidas que agora estãosendo tomadas fossem tomadas dois meses atrás, certamente asituação estaria melhor, tanto no combate ao mosquitoquanto no atendimento aos doentes", afirmou Pinguelli. A Coppedesenvolveu um modelo de informação para o controle daepidemia com o qual os gestores de saúde poderãoatualizar em tempo real as informações sobre oassunto.Segundo o professor Adilson Elias Xavier, do Programade Engenharia de Sistemas de Computação da Coppe, omodelo poderá tornar mais eficiente o controle de focos domosquito transmissor e identificar pessoas infectadas. "Precisamosusar  tecnologia moderna e logística para o combate e ocontrole da dengue", disse ele. Com esse modelo, o professoracredita que  os gestores terão o controle real dasituação da epidemia na cidade. Adilson Xaviertambém criticou o modelo adotado atualmente pelo poderpúblico: "Hoje em dia os sistemas sãotradicionais, com papéis, registros e formulários. Issoleva tempo, é muito incompleto, e há váriasáreas da cidade [Rio de Janeiro] sem nenhum controle.Já estamos falando com as autoridades para implantar esseprojeto de inclusão digital na área da saúde. Ogoverno vai economizar, porque o sistema vai produzir eficiênciae velocidade."Para o coordenador do Departamento deMedicina Preventiva da UFRJ, Roberto Medronho, falta integraçãoentre os centros de pesquisa e os poderes públicos. "ORio de Janeiro vive um grande paradoxo: ao mesmo tempo que temosgrandes centros de pesquisa e laboratórios na área dedengue, não temos um diálogo adequado com a Secretariade Saúde. Se houvesse mais permeabilidade entre os dois entes,com certeza poderíamos dar  nosso conhecimento paraaprimorar a estratégia de combate ao vetor na cidade."Medronho disse que os especialistas em saúde etecnologia continuam abertos ao diálogo com técnicos daSecretaria de Saúde para tornar mais eficiente o combate àdengue, reduzir o número de casos e o sofrimento da população.Ele considera praticamente impossível erradicar o Aedesaegipty: "Temos um ambiente urbano desordenado, comcarências de saneamento básico e de coleta delixo."Segundo o superintendente estadual de Vigilânciada Saúde, Victor Berbara, o sistema de informaçãodesenvolvido pela universidade poderá ser implantado peloestado como ferramenta de combate à dengue. "Estamosbuscando como estratégia para combater não só adengue, mas outras situações relacionadas àsaúde da população, sistemas ágeis deinformação para a tomada de decisão rápida.Estamos ainda avaliando", explicou.No entanto, Berbaranão descartou a necessidade de mais integraçãoentre os órgãos do governo e da sociedade civil paraevitar novas epidemias nos próximos anos. Ele defendeuinvestimento em mobilização social e entrosamento entreas diversas áreas de governo, como planejamento, ambiente,saneamento e educação. "Essa epidemia veio mostrarque a dengue não é uma situação exclusivada saúde, é uma necessidade de envolver e integrarforças no combate à doença."