FMI alerta para risco de real forte sobre economia brasileira

08/04/2008 - 19h37

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A valorização do real na comparação com outras moedas internacionais pode ter impacto sobre a economia brasileira caso as turbulências no mercado financeiro se agravem. A avaliação é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que hoje (8) divulgou relatório semestral sobre a estabilidade financeira mundial.Sob o título Avaliando os Riscos à Estabilidade Financeira Global, o estudo afirma que os países emergentes, como o Brasil e a Índia, estão atraindo o interesse de aplicadores internacionais de curto prazo. No entanto, alerta, o capital especulativo pode provocar danos a essas economias em caso de novas turbulências financeiras.De acordo com o relatório, a força de moedas como o real e a rúpia indiana, que se valorizaram nos últimos tempos, representa indício de que estejam ocorrendo operações de arbitragem, também conhecidas como carry trades (em inglês). Neste tipo de transação, os investidores tomam empréstimos em países com juros baixos, como os Estados Unidos, e aplicam em outros com taxas maiores, como as nações emergentes. No final, embolsam a diferença.Com as operações de arbitragem, aumenta nos países emergentes o fluxo de investimentos externos de curto prazo e que não criam empregos. O excesso de recursos externos empurra a cotação do dólar para baixo nesses países. A moeda norte-americana barata estimula o aumento das importações e dificulta as exportações. Com o passar do tempo, os países emergentes tornam-se cada vez mais dependentes do capital especulativo, que pode fugir em crises internacionais.Apesar das ressalvas quanto à supervalorização do real, o FMI considera o Brasil mais bem preparado que no passado para lidar com a dependência de capitais externos, porque a economia tem crescido por causa do consumo interno. Além do Brasil, o FMI destaca que Colômbia, Islândia, Indonésia, Nova Zelândia, Turquia e África do Sul têm recebido grande volume desse tipo de investimento nos últimos tempos.Os recentes cortes de juros nos Estados Unidos, avalia o relatório, estimularam ainda mais as operações de carry trades. Nos últimos meses, o Federal Reserve (o banco central norte-americano) reduziu os juros básicos de 3% para 2,25% ao ano – o maior corte em mais de duas décadas.No Brasil, no entanto, os juros básicos estão em 11,25% ao ano e podem subir neste mês. Segundo pesquisa com instituições financeiras divulgada ontem (7) pelo Banco Central, os analistas de mercado acreditam que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentará a taxa Selic para 11,50% ao ano na reunião da próxima semana.No mês passado, o governo tomou medidas para conter a entrada de capital especulativo no país e passou a cobrar 1,5% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre as aplicações de investidores estrangeiros em renda fixa. O objetivo, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi o de conter a queda do dólar.