Para economista da FGV, aumento do mínimo não é eficaz na distribuição de renda

29/02/2008 - 21h33

Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Hádez anos, o aumento do salário mínimo tinha impactomuito forte na redução da pobreza, mas hoje os dadosanalisados pelos institutos de pesquisa mostram que boa parte dosefeitos positivos desse aumento foi perdida. A avaliaçãoé do economista da Fundação GetulioVargas (FGV), Marcelo Néri.

Ementrevista à Agência Brasil, ele explicou que o aumento exerce tanto efeitos positivos quanto negativosna economia e alertou que nas áreas pobres pode causar mais desemprego e informalidade do que o próprio ganho conquistado. “Tanto pode aumentar o salário das pessoas como fazer com que elas percam o emprego ou a carteira de trabalho No lado fiscal, melhora a renda de mais de 12 milhões de pensionistas e aposentados doINSS, aquece a economia local, mas por outro lado tem um impacto importante nas finanças municipais, jáque existe maior proporção de funcionáriospúblicos municipais atrelados ao mínimo do que nopróprio segmento de empregadas domésticas”, disse.

Néri informou que o impacto nas contas públicas com aPrevidência equivale a aproximadamente 12% do Produto InternoBruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país).

E disse que foram criados mecanismos alternativos mais eficazes para diminuir a pobreza: “Ocaminho do salário mínimo é um caminho maislongo, mais tortuoso, mais indireto, que não pega tanto osmais pobres. Há dez anos, além de o salário mínimoestar num nível muito mais baixo, não havia essescaminhos alternativos, verdadeiros atalhos para a reduçãoda pobreza.”

Segundo o economista, atualmente, o impacto do Bolsa Família é bem maiorque o do salário mínimo sobre a populaçãopobre: “Cada real que se gasta em aumento do Bolsa Famíliaimpacta a pobreza duas vezes e meia mais do que cada real que se gasta em salário mínimo”. Para ele, não seinveste na população jovem e se deixa para compensá-lana velhice: “Aspessoas vivem vidas miseráveis e no final tenta-secompensá-las. Acho que essas pessoas merecem uma condiçãomelhor de vida, sem dúvida. Agora, a gente não podedeixar de lado as gerações mais novas. Mas a bandeiradas crianças não é uma bandeira politicamentemuito forte, porque criança não vota. Uma em cada cincocrianças é pobre, enquanto essa taxa é setevezes menor entre os idosos. Então, é uma opçãoque o Brasil fez, mas está na hora de se fazer uma opçãopelas crianças.”

Oeconomista André Rebelo, da Federação das Indústrias do Estadode São Paulo (Fiesp), lembrou que a implantação do Bolsa Família levou a um considerável aumento do consumo nas Regiões Norte e Nordeste, onde o programa tem maior abrangência. "Os dados de venda no comércio naquela região crescerammais de 10%, enquanto a média nacional estava entre 4% e 5%”, informou.

ParaRebelo, que é gerente do Departamento de Pesquisas e EstudosEconômicos da Fiesp, o programa teve papel de indutor doconsumo das famílias que estavam fora do processo produtivo,sem renda e sem emprego.