Prefeito da cidade com maior taxa de homicídios acha situação "normal"

29/01/2008 - 21h37

Paloma Santos
Da Agência Brasil
Brasília - Coronel Sapucaia (MS), na fronteira com o Paraguai, ficou em primeirolugar no ranking das cidades com as maiores taxas de homicídiodo Brasil, segundo o Mapa da Violência nos Municípios Brasileiros 2008, divulgado hoje(29). Com 13.828 habitantes, o município registrou 13 homicídios em 2006, cerca de um a cada mil moradores. Oprefeito Ney Kuasne, no entanto, classificou a taxa como “normal”.“Éum número normal. Número grande é o do Rio deJaneiro”, disse o prefeito em entrevista à Agência Brasil.O Rio ficou em 205º no ranking em que a taxa é calculada proporcionalmente à população. Na lista que considera o número absoluto de assassinatos, é a segunda cidade, atrás apenas de São Paulo.No entanto, o diretor-executivo do Instituto Sou da Paz, DênisMizne, acha que a estatística do município sul-mato-grossense não énada normal. Citando critérios da Organização das NaçõesUnidas (ONU), ele afirma que, para que uma sociedade seja considerada “segura”, ataxa de homicídios não pode superar dez para cada 100 mil habitantes, ou seja, um para cada 10 mil (dez vezes menos que Coronel Sapucaia).“Treze mortes pode parecer pouco, mas, para o tamanho da cidade,causa preocupação. E a atitude do prefeito de aceitarcomo normal deveria ser substituída por uma tentativa demudança no índice, e de melhorar as condiçõesde vida na cidade”, disse Mizne.O prefeito aponta aproximidade com o Paraguai como a principal causa das mortes. Ele acredita que alguns crimes foram na verdade praticados por paraguaios do outrolado da divisa. “Por exemplo, doiscorpos foram encontrados na estrada que vai para a fronteira com oParaguai, e não foram reconhecidos por ninguém no nossomunicípio. Elas [as fronteiras] são muito vulneráveis para ageração de criminalidade, bandidagem e violência”.Ney Kuasne também cobrou atenção do governofederal nas regiões fronteiriças. “Falta mais carinhopor parte do governo para com as fronteiras, que são a portade entrada do país. Coronel Sapucaia tem três policiaismilitares, um delegado da Polícia Civil, dois investigadores e umfuncionário que faz identidades [emite documentos] na delegacia. São trêspoliciais que fazem plantão um dia sim, outro não. Quemagüenta?”.Neste ponto, o diretor do InstitutoSou da Paz concorda com a reclamação do prefeito. Eleacha um “absurdo” a forma como as regiões de fronteira sãofiscalizadas no país. “A fiscalização éresponsabilidade do governo federal. É uma situaçãoque precisa do apoio dos governos estaduais, no sentido dopoliciamento, e precisa de um trabalho integrado com o governo local.O aumento da criminalidade permeia as fronteiras por causa do tráfegode drogas e de armas. Isso está repercutindo nesse município,mas é um problema do país inteiro”.De acordo com o Mapa daViolência, o município registrou 13 homicídios em 2006, 17 em 2005, 17 em 2004, oito em 2003 e 21 em 2002. Em relação a 2006, oprefeito afirmou que houve na verdade uma morte a mais: “A Delegacia de Polícia Civil verificou 14homicídios. Entre os crimes, estão acidentes detrânsito, mortes de indígenas, de foragidos e outroshomicídios dolosos".