Preocupação com filhos aumenta ansiedade de detentas

27/01/2008 - 19h23

Fabíola Ortiz e Isabela Vieira
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A preocupação com as duas filhas, na época menores de 10 anos, fez com que Carla Dias Martins, 38 anos, desistisse há quatro anos de retornar à penitenciária na qual cumpria pena em regime semi-aberto. “Quando eu saí vi que minhas filhas estavam sendo maltratadas. Elas estavam com uma cunhada, que não cuidava direito. Foi então que vi que não poderia continuar ali [presa] e fugi”, conta. Recapturada dois anos depois, Carla ainda cumpre ainda vai cumprir pena por alguns anos. Dessa vez, segundo ela mesma, um pouco mais tranqüila: “Agora as meninas estão grandes. Tenho até neto”.Entre os problemas das mulheres que vivem encarceradas, o distanciamento dos filhos destaca-se como um dos que mais causa irritação e angústia nas detentas. Em alguns casos, os transtornos precisam ser tratados com medicamentos. Segundo a socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, as mulheres ficam mais preocupadas com os filhos do que os homens e, por isso, sofrem mais. “O afastamento dos filhos é muito mais doloroso para mulher. Elas querem saber como estão os familiares que ficaram do lado de fora. O homem, com muita freqüência, quando vão presos não estavam vivendo com os filhos ou já os deixaram sob os cuidados de outra pessoa”, explicou.A socióloga lembra que muitas das mães presas eram responsáveis pelo sustento das famílias e, com a detenção, não têm mais nenhuma fonte de renda. “Quando as mulheres são presas deixam de prover não só o amor, mas também a subsistência das crianças”, disse.Lemgruber avalia que faltam medidas de atenção a esse problema, já que o trabalho nas penitenciárias não é remunerado e serve apenas para abater os dias da condenação. A dor decorrente do afastamento dos filhos pode até causar problemas de saúde. A psicóloga Márcia Badaró trabalha em um presídio feminino no Rio. Ela explica que esses quadros são comuns e que, em alguns casos, são tratados com remédios.“A medida em que se rompem os vínculos, o nível de angústia e ansiedade é altíssimo. Aí começa a procura por medicamentos”, afirma Badaró. No entanto, segundo ela, o remédio deve ser último recurso. O ideal é que as presas sejam tratadas por meio de atividades alternativas. “São necessárias atividades, terapias e cursos que por meio da expressão dos sentimentos diminuam a angustia e as ajude a suportar o restante da pena”, sugere a psicóloga.