Depois de oito anos presa, ex-detenta tentará reconstruir a vida

27/01/2008 - 20h32

Petterson Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Por volta das duas horas da tarde do último domingo de 2007, oportão de entrada da Penitenciária Feminina Sant'ana, localizada na zona norteda capital paulista, abriu-se e Luzia deSouza pôde sentir novamente a liberdade, depois de oito anos presa.Com o alvará de soltura numa mão e uma caixa preta pequenade presente com os pertences na outra, Luzia sorria e agradecia a Jesus pelaliberdade e por ter vencido as dificuldades da prisão. “Eu fui presa no artigo 157, que é assalto a mão armada, fuicondenada a oito anos de cadeia, estou cumprindo de ponta e hoje foi o términoda pena.”No decorrer da sua pena, ela passou por váriascadeias femininas e reclama do sistema penitenciário. “Passei em todas cadeias,passei no Tatuapé, no Butantã, em Franco da Rocha, em Campinas, Taubaté, atéchegar aqui. A cadeia em si, o sistema penitenciário em si é muito rígido, émuito veneno, expõe muito a integridade física das pessoas.”Questionada sobre as diferenças entre as penitenciárias pelas quais passou, ela destaca quadros distintos deocupação das celas e de atividades de recuperação. “Aqui [na PenitenciáriaFeminina Sant'ana] são duas [presas] por cela, só no pavilhão três éque são três por cela, mas em Campinas [no interior paulista] são16, 20 mulheres na cela. No Butantã tem bastante trabalho, dão cursos paragente, de manicure, de cabeleireiro. Aqui não.”A assessoria de imprensada Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo informoupor e-mail que a Penitenciária FemininaSant'ana realiza atividades laborterápicas e estudo com as presas.Luzia de Souza não acredita na recuperação das detentas mesmo com ostrabalhos de formação e ressocialização. Para ela, a situação do sistemapenitenciário é precária e muita coisa deveria ser mudada.“A cadeia é uma escola criminal, aperfeiçoa mais o crime. Acadeia oferece tudo o que não presta. Tem muita gente inocente dentro da cadeia,mas as inocentes viram criminosas e saem bandidas desse lugar. Isso é umaescola do crime e não tem nada de ressocialização para ninguém.”Luzia interrompeu a entrevista à AgênciaBrasil porque sua carona chegou e ela vai viajar para Marília,cidade onde mora. Ela diz que tentará reconstruir a vida. “Eu esperosair, trabalhar. Eu tenho um filho pequeno para criar que eu não vi nada [docrescimento, ele tem oito anos] dele. Eu espero ser uma nova pessoa, esperoque alguém me dê uma oportunidade.”