Conflito no Quênia não deve se espalhar pela África, avalia cientista político

03/01/2008 - 18h18

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O trauma sentido na África depois do massacre ocorrido em Ruanda, durante uma guerra civil entre as duas principais etnias que formam o país, em 1994, deve impedir que o atual conflito no Quênia se espalhe para outros países do continente. Esta é a avaliação do cientista político Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).“Ninguém quer ver a repetição de um massacre como aquele. Portanto, a insensatez de Ruanda não deverá se repetir no Quênia. Há uma preocupação muito grande, por parte das lideranças da União Africana, de fazer com que esse conflito seja interrompido”, afirmou, em entrevista à TV Brasil.Gonçalves admitiu o risco de se desencadear uma guerra civil entre as duas etnias quenianas – kikuyo, do presidente Mwai Kibaki, reeleito na semana passada, e luo, do candidato Raila Odinga, da oposição. Para o cientista, o desenrolar do conflito vai depender da atitude dos dois líderes políticos.“Cabe a eles ter uma atitude responsável de se unir para preservar a paz no país e realizar novas eleições, fazer um acordo político. O que não pode é os projetos pessoais deles levarem o país a um desastre humanitário completo. Eles tanto podem adotar um comportamento conciliador e procurar resolver a questão politicamente, como também podem insuflar ainda mais a população – e isso naturalmente causará um desastre”, afirmou.Atualmente, o Quênia tem quase 40 milhões de habitantes, num território do tamanho de Minas Gerais. Ex-colônia da Inglaterra, independente há 44 anos, era o país mais estável do continente, junto com a África do Sul. Apesar de dizer que o país não tem um histórico de conflitos étnicos, Williams Gonçalves lembra que também não há uma tradição democrática, de disputa partidária.“O Quênia, como os demais países africanos, tem uma vida independente relativamente curta, tornou-se independente da Inglaterra em 1963, e até 1990 foi governado por um partido único”, informou.Gonçalves ressaltou também o fato de a disputa eleitoral ter sido muito apertada e de as suspeitas de fraude serem muito fortes. “O candidato que se reelegeu obteve 47% dos votos e o da oposição, 44%. Há acusações a respeito de fraudes nas eleições e há quase que uma admissão disso. O coordenador das eleições e os observadores internacionais admitem implicitamente que houve fraude”, concluiu.