Falta de áreas para invasões incentiva compra e aluguel de imóveis em favelas

25/12/2007 - 15h54

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A expansão do mercado imobiliário nas favelas está diretamente relacionada à escassez de áreas para invasões. A constatação é de pesquisa promovida por oito universidades brasileiras, lideradas pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo analisou a compra, venda e o aluguel de imóveis em favelas de oito capitais: Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Belém, Salvador e Brasília. O levantamento teve apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia.Segundo a pesquisadora do Ippur Andréa Pulici, uma das autoras do estudo, o mercado imobiliário informal representa a resposta para a falta de meios para as favelas se expandirem. “São pouquíssimas as áreas que você ainda tem livres para invasão. Então, você só entra no mercado informal via compra e venda. Essa é uma prática de hoje”, destaca.O estudo também constatou diferenças nos mercados imobiliários informais conforme as capitais. No Rio de Janeiro, predominam a compra e venda de imóveis, mas em Recife o mercado informal de aluguel caracteriza a maior parte dos negócios nas favelas.A pesquisa apurou que, em 2003, o mercado de aluguéis nas favelas cariocas atingia 15% do total. Em 2006, esse percentual subiu para 27%, mas ainda há predominância na compra e venda de imóveis. Em Recife, 57,92% dos negócios efetuados no mercado imobiliário informal são aluguéis. O mesmo ocorre em Florianópolis (42,20%) e Brasília (39,19%).Na avaliação da especialista, o mercado de aluguéis em favelas se expandiu porque muitos moradores viram como uma forma de ganho a construção de um “puxadinho” ou o aluguel de um cômodo da casa. Ela ressalta que a prática não é exclusiva do Rio de Janeiro. “A gente também percebe essa tendência quando analisamos outras cidades. Existe um mercado de aluguel importante em outras cidades”, salienta. Ela cita o caso de Bogotá (capital da Colômbia), onde o peso desse mercado é superior a 40%.Pulici explica ainda que o aluguel representa a forma de as pessoas que não podem adquirir um imóvel nas favelas entrarem nesse mercado. Enquanto juntam dinheiro para comprar um barraco, muitos moradores alugam um quarto nos fundos de uma casa.No aluguel, segundo o levantamento, prevalecem os imóveis de um a dois quartos. Na compra e venda, predominam as unidades de dois a três quartos. “Já tem aumento de famílias”. Em relação a valores, a pesquisa revela que os preços cobrados no Rio de Janeiro são similares aos de São Paulo e Porto Alegre, enquanto em Recife são mais baixos, assemelhando-se aos de Belém.Em Porto Alegre, de acordo com o estudo, não existe praticamente mercado imobiliário informal. “O número é mais baixo do que em outras cidades. É uma resposta aos 16 anos de política de regularização fundiária implantada pelo governo”, esclarece a pesquisadora.Pulici também ressalta a fiscalização maior para coibir a prática na capital gaúcha. “Além disso, o processo de informalidade em Porto Alegre é mais recente do que no Rio de Janeiro ou em São Paulo, principalmente”, acrescenta.