Referendo foi um erro político de Chávez, afirma professor

03/12/2007 - 10h36

Clara Mousinho
Da Agência Brasil
Brasília - O presidente da Venezuela sofreu sua primeira derrota política por falta de avaliação. A opinião é do professor de História Contemporânea da Universidade  Federal Fluminense (UFF), Daniel Aarão Reis Filho. “Foi um erro político e de avaliação. O Chávez poderia empreender as reformas que ele pensa serem necessárias sem esse referendo, porque ele tem ampla maioria no Congresso, tem respaldo na mais alta instância do Judiciário e tem popularidade pessoal”, afirmou o professor em  entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.Na madrugada de hoje (3), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou  a rejeição da população venezuelana à reforma constitucional do presidente Hugo Chávez por 50,70% votos válidos. O Sim teve 49,29% de votos e deixaram cerca de 44% da população venezuelana não foram às urnas. Para Reis Filho, o maior erro de Chávez foi propor reformas de naturezas diferentes em pouco tempo de discussão. “Ele poderia inclusive submeter a voto as reformas sociais, que são muito importantes e constavam no pacote de propostas reformistas, sobretudo a diminuição da jornada de trabalho para seis horas. Mas ele embrulhou no pacote ao mesmo tempo a questão do socialismo, que é  maior e não pode ser debatida por uma sociedade em um mês”. A proposta de reforma constitucional de Chávez previa a alteração de 69 dos 350 artigos da Constituição da Venezuela de 1999.  Entre as mudanças estavam a ampliação de seis para sete anos do mandato presidencial, a reeleição  ilimitada e a redução da maioridade eleitoral de 18 para 16 anos.Para o professor, a oposição teve maioria na votação do referendo porque criticou as propostas e não o presidente venezuelano. “As oposições tiveram o cuidado de centrar a sua campanha não na figura do Chávez, que continua muito popular no país, mas na proposta de reforma. Embora na reta final, Chávez, percebendo isso, fez todo esforço para caracterizar o referendo como um plebiscito de aprovação ou reprovação à sua pessoa”. “Penso que, não necessariamente, essa derrota do Chávez é da sua pessoa. Mas evidentemente que, se associando de uma maneira íntima com a proposta, o Chávez sai enfraquecido. Não é um resultado catastrófico para ele, a meu ver, sobretudo se ele souber assimilar o resultado democraticamente”.Reis Filho disse também que, mesmo se Chávez conseguisse aprovar a reforma constitucional, teria gerado descontentamento da sociedade venezuelana. “O Chávez, evidentemente, com  essa proposta não conseguiu unificar as maiorias que votavam nele nas eleições passadas. Mesmo que tivesse conseguido uma vitória com uma pequena diferença, ele teria certamente fraturado a sociedade e provocado um nível de descontentamento que inviabiliza qualquer política de reforma democrática”.