Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma vez por semana, a psiquiatra Carmem Tourinho vai a uma das três residências terapêuticas mantidas pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lá, ela se encontra com pacientes que antes viviam internados permanentemente no hospital do instituto e que agora vivem juntos em uma residência.Atualmente, a UFRJ promove a reintegração de 20 pessoas com problemas de saúde mental à sociedade. Os pacientes, explica Carmem, aprendem a lidar com novidades do cotidiano moderno. “Tem uma que veio de Paracambi [interior do estado do Rio de Janeiro] que nem roupa conseguia usar. Hoje, ela é uma pessoa vaidosa, que se relaciona, circula pela cidade acompanhada e tem outra vida”, conta a psiquiatra.As casas têm, no máximo, oito moradores, além de um cuidador saudável que ajuda os outros em situações de dificuldade. A maioria deles foi abandonada pela família e passou a maior parte da vida dentro de um manicômio.O dinheiro para o sustento vem das pensões da Previdência Social e da verba de R$ 250 distribuída pelo programa De Volta Para Casa, do Ministério da Saúde. O Instituto ajuda ainda a manter as residências, pagando contas e mantendo os cuidadores que moram com os pacientes. A UFRJ oferece ainda uma equipe de assistentes sociais e psicólogos que também cuidam da marcação de consultas médicas e de outras necessidades.A iniciativa tem o apoio do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Para o vice-presidente do conselho, Marcus Vinicius de Oliveira, a internação dos portadores de transtornos mentais provoca a “cronificação” da doença. Ele considera o retorno ao convívio social imprescindível para o restabelecimento mental dos pacientes. “Os manicômios excluem socialmente e isso faz com que o paciente tenha dificuldade de reencontrar sua dinâmica psíquica”, explica.Oliveira alega ainda que a internação provoca abandono. Segundo ele, dos 38 mil leitos que existem para internação psiquiátrica no Brasil, 12 mil estão ocupados por pessoas permanentemente internadas. Os Centros de Apoio Psicossocial (Caps) foram criados para substituir a internação nos manicômios. Com eles, o paciente volta a ficar com a família e freqüenta periodicamente o núcleo de apoio próximo a sua casa. Lá, ele e a família encontram orientações sobre situações e dificuldades do cotidiano, recebem a prescrição dos medicamentos, fazem oficinas de geração de renda e artes. Em casos de crise, o paciente pode ser internado por poucos dias e volta para casa quando retoma o controle.A discussão sobre a substituição dos manicômios tradicionais pelos Caps foi tema de audiência pública na Câmara dos Deputados hoje (29). O evento faz parte dos debates sobre os 20 anos de luta antimanicomial no Brasil.