Marco Antônio Soalheiro*
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Não háconsenso sobre os riscos para a produção de alimentosno Brasil com o avanço do biocombustível, indicamentrevistas feitas pela Agência Brasil. Relatóriosrecentes do Banco Mundial (Bird) e da Organização dasNações Unidas (ONU) trazem alerta aos países emtorno da questão.Para o ministro da Ciência eTecnologia, Sergio Rezende, o Brasil está livre de problemasalimentares e ambientais que possam ser provocados pelo crescimentoda produção do setor. “O país, hoje, produzcana em 6 milhões de hectares de terras. Para os outrosprodutos, ainda restam mais de 300 milhões de hectaresagricultáveis, sem tocar em um palmo de floresta”, disse.Rezende calcula que até 2015 a cana deve ocupar 20 milhõesde hectares, o que seria suficiente para o Brasil atender a 10% dademanda mundial de etanol. Segundo o ministro, o que ocorreno país é um esforço pelo melhor aproveitamentode pastagens e terras subutilizadas com culturas voltadas aobiocombustível. “O Brasil já foi citado na imprensainternacional como modelo na produção destescombustíveis, por incrementar a atividade sem comprometer aprodução de alimentos”, argumenta Rezende,referindo-se a reportagem da revista National Geographic nestemês.A avaliação do ministro não écompartilhada pelo pesquisador Edélcio Zigna, coordenador dogrupo de trabalho de agricultura da Rede Brasileira pela Integraçãodos Povos (Rebrip). Estudos da entidade falam em falta de pesquisasmais amplas de impacto e mapeamento considerando as variáveissociais, agrícolas e ecológicas, para delimitarclaramente áreas onde os efeitos da monocultura da cana, domilho e de óleos vegetais seriam minorados.
“O biocombustível estáagravando a concentração de renda no Brasil. O produtorde matéria-prima é apenas um elo a mais numa cadeiaenorme, dominada por grupos transnacionais que substituem mãode obra por culturas mecanizadas”, criticou Zigna.
O especialista da Rebrip avalia,entretanto, como um exagero a tese de que a atividade alcooleira vaiagravar a fome mundial. Segundo ele, o problema é provocadomais por dificuldade de acesso que por insuficiência naquantidade. Mas Zigna aponta possíveis prejuízosnutritivos com a alta de preço dos alimentos: “A populaçãopobre urbana é que pode ser mais prejudicada. Se hoje ela jácome mal, deve ficar pior. Os restaurantes populares e cestas básicaestão longe de atingir 60% dos brasileiros que vivem emsituação de miséria.”
Já para a consultora da AçãoBrasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (Abrandh)Valéria Burity, “a expansão desordenada da produçãocanavieira pode provocar aumento de preço dos alimentos ecausar riscos à segurança alimentar”.
Uma pesquisa desenvolvida pelaRebrip ao longo do ano de 2007, em parceria com a UniversidadeFederal Rural do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de SantaCatarina sobre a influência dos biocombustíveis naagricultura, está sendo concluída e deve ser divulgadano próximo mês. A idéia da entidade élevar o estudo a debates nas Comissões de Meio Ambiente eAgricultura do Congresso Nacional.A Rebrip, informou EdélcioZigna, é favorável à proposta de moratóriaapresentada na Assembléia Geral da ONU, no sentido de se freartemporariamente a expansão mundial dos biocombustíveis.