Conferência debate se produção de biocombustíveis pode encarecer alimentos

20/09/2007 - 22h46

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A sustentabilidade dosbiocombustíveis foi o centro do debate sobre o tema hoje (20)na Conferência Internacional Rio + 15, promovida por umaempresa do mercado de carbono. Especialistas e empresários dosetor discutiram se o avanço da produção debiocombustíveis pode elevar o custo dos alimentos, por causada competição pelo uso da terra.De acordo com oempresário Sérgio Flores, da Infinity Bio-Energy, dadosda Organização de Cooperação eDesenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a UniãoEuropéia vai aumentar em 6% os preços dos alimentos emvirtude da expansão da produção destinada aosbiocombustíveis."Se os uso daterra não for responsável, e a produçãode biocombustíveis receber subsídios, issonecessariamente vai elevar o preços dos alimentos",afirmou.Em entrevista àAgência Brasil, o representante da OCDE, Brice Lalonde,defendeu “cuidado”. “O sucesso que você tem no Brasil nãopode ser repetido em qualquer lugar”, disse. “Nos Estados Unidose na Europa, a natureza não é generosa como no Brasil.Segundo, no Brasil, isso parece competitivo, não hábriga pelo uso da terra com a produção de comida. Emoutros países há essa competição, vocêtira terra da plantação de alimentos para produçãode biocombustíveis e o preço da comida aumenta, e issoconta com altos subsídios.”Na avaliaçãodo diretor da organização não-governamental(ONG) Amigos da Terra, Roberto Smeraldi, a discussão sobre osbiocombustíveis está "cada vez mais ideológica"e o debate mundial deve caminhar para a busca de soluções"neutras", que não signifiquem o fim da produçãodos biocombustíveis nem o crescimento exagerado da exploraçãoda terra para esse fim.Por sua vez, orepresentante da Brasil Ecodiesel, empresa responsável por 52%da produção brasileira de biodiesel, JórioDauster, afirmou que o uso da terra para produção debiocombustíveis "não tem a ver com a questãodos pobres"."Se deixássemosde produzir biocombustíveis, isso não mudaria a vidadeles em nada. Não é uma questão de falta deoferta de comida, por exemplo, é falta de recursos paracomprá-la. A discussão não é moral ouética, é uma lógica do mercado, uma questãoeconômica".Dauster, que jápresidiu a Companhia Vale do Rio Doce, disse que apóia oprograma de biocombustíveis brasileiro, mas quer que o governoestabeleça percentual obrigatório de mistura debiocombustíveis ao diesel, por exemplo, medida quebeneficiaria empresas como a sua.O representante daPetrobras, Mozart de Queiroz, afirmou que a estatal, responsávelpelo programa de biocombustíveis brasileiro, reconhece que asuperfície da terra é limitada e que "nãose pode deixar de alimentar as pessoas para alimentar os carros",mas afirmou que é possível produzir de formasustentável.O debate sobrebiocombustíveis encerrou a Conferência Rio + 15, eventopromovido pela EcoSecurities, empresa que atua no mercado de carbono,para discutir questões do futuro das emissões dos gasesconsiderados causadores do efeito estufa. Anunciado como uma retomadadas discussões da Rio-92 (ou Eco-92), o evento nãopriorizou as questões ambientais, como a conferência 15anos atrás, e sim discussões com teor econômico.