Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro Carlos Ayres Britto considera que a expectativa da sociedade e da mídia a respeito do julgamento do mensalão não influenciou na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). "Claro que, num julgamento desse, com tantas pessoas notórias envolvidas, muitas ocupando cargos públicos e diante da próxima complexidade técnica, com tantos delitos apontados na denúncia, tudo isso nos levou a trabalhar sob tensão. Mas não sob pressão"."Ninguém nos pressionou, nem governo, nem imprensa, trabalhamos com liberdade, cada um de acordo com sua consciência", afirmou à Agência Brasil, após participar do 1º Seminário Nacional sobre Direito Administrativo Disciplinar.Segundo o ministro, a decisão do STF foi eminentemente técnica. "Todos os ministros fundamentamos nossas decisões no ordenamento jurídico".Mesmo sem considerar que houve pressão da sociedade, Ayres Britto considera que a decisão do Supremo de aceitar investigar as denúncias contra 40 pessoas representa um sentimento nacional. "Agora, não posso deixar de reconhecer que há, subjacente à nossa decisão, uma outra leitura, que é a de que todos queremos um Brasil com qualidade de vida política. Um país mais ético e apegado aos valores constitucionais".O ex-ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, afirmou ontem (30) que o julgamento do Supremo Tribunal Federal, que decidiu pela abertura de ação penal contra 40 acusados de envolvimento no esquema do mensalão, “está sob suspeição” porque houve “interferência brutal” da mídia na decisão do tribunal.“A publicação dos e-mails evidentemente é uma interferência brutal no julgamento”, disse, em referência a reportagem do jornal O Globo que revelou o conteúdo de mensagens trocadas por computador entre os ministros Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski, durante o julgamento. O diálogo mostrava que eles discutiam pontos do mérito da denúncia apresentada pelo Ministério Público Federal.Em entrevista coletiva à imprensa em São Paulo, Dirceu também comentou reportagem publicada hoje (30) no jornal Folha de S.Paulo, segundo a qual o ministro Ricardo Lewandowski disse, em uma conversa telefônica, que o STF "votou com a faca no pescoço" e que "a imprensa acuou o Supremo" para decidir pela abertura de ação penal no caso do mensalão.