Estudantes africanos da UnB são alvo de preconceito há mais de cinco anos, diz aluno

29/03/2007 - 22h20

Janari Damasceno
da Rádio Nacional
Brasília - Estudantesafricanos que moram nos alojamentos da Universidade de Brasília (UnB)estão sendo perseguidos por causa de preconceito racial há mais decinco anos, afirma o estudante de administração Samony Guilherme, de 28anos, de Guiné Bissau - país africano de língua portuguesa. Ele contaque brigas entre brasileiros e africanos começaram há muitos anos porum grupo pequeno e essa rixa foi herdada por gerações seguintes deestudantes, mesmo sem saber o motivo que originou o conflito.Segundo conta, esses fatos nunca foram expostos para a sociedade oupara a reitoria da UnB, pois eram casos isolados. Mas na madrugada deontem (28), quando um grupo de pessoas ateou fogo na porta de trêsapartamentos onde moravam apenas africanos. Nas paredes, pixações com afrase "morte aos estrangeiros".Quem viu a forma como o incêndio começou relata que houve um crimepremeditado, tendo em vista que camisas foram postas em baixo da portapara evitar que os estudantes sentissem o cheiro da fumaça. Esponjascom tijolos foram presas contra a porta, para que o fogo realmenteconsumisse a madeira. Os extintores de incêndio do primeiro e segundoandar foram esvaziados e gasolina foi usada para atear o fogo.Oestudante Quebá Carimo Cairabá, de 28 anos e aluno de administração,está tão assustado que quer deixar o país. Segundo ele, "forammoradores do prédio mesmo, que têm preconceitos e dizem que não temos odireito de morar aqui na UnB, porque temos dinheiro e estamos tirandoas vagas que são de brasileiros. Quero me formar o mais rápido possívele ir embora pra Guiné Bissau, o que é muito triste, pois sempre tive osonho de vir para cá conhecer o país pacato do samba, futebol e praias".

Deacordo com o vice-reitor da UnB, Edgar Mamia, a universidade fará umainvestigação própria com a criação de uma comissão - os envolvidosserão expulsos. A Polícia Federal também investiga o caso e o Itamaratypublicou uma nota dizendo que "o governo brasileiro reitera seu repúdioa quaisquer atos de violência que não se coadunam com o espíritoaberto, tolerante e acolhedor do povo brasileiro". Todos os 17 alunosafricanos foram levados para um hotel que permanece em sigilo.Manifestações contra o racismo acontecerão durante as próximas semanas na UnB.