Pesquisa aponta avanço de estradas ilegais em terras públicas na Amazônia

10/03/2007 - 11h55

Gilberto Costa e Elaine Borges
Repórteres da Rádio Nacional da Amazônia
Brasília - Imagens de satélite analisadas pelo Instituto do Homem eMeio Ambiente da Amazônia, o Imazon, mostram que há 173 mil quilômetros deestradas abertas ilegalmente em terras públicas na Amazônia.De acordo com o estudo, a cada ano surgem cerca de 1,9 milquilômetros de novas estradas de chão batido, abertas na mata por meio demoto-serras, tratores do tipo patrol ou tratores de esteira comcorrentes estendidas (usados para maiores devastações).As estradas clandestinas trazem a extinção da floresta econcentram o desmatamento. Nove em cada 10 quilômetros da malha rodoviáriailegal estão no Mato Grosso, Rondônia e Pará. No raio de 5 quilômetros daspistas ilegais estão 80% da destruição da Amazônia, calcula o geógrafo CarlosSouza Júnior, responsável pelo estudo do Imazon.Ele explica que a análise das imagens de satélite permitecompreender a “geografia da ocupação” antes que as novas fronteiras deexploração da floresta estejam delineadas. Com as fotos das rodovias“endógenas” ou “não-oficiais”, governo e sociedade podem antecipar ondeocorrerão processos de desmatamento.“Se a gente consegue localizar essas estradas, a genteconsegue prever com muito mais precisão onde vai acontecer o desmatamento nospróximos anos”, explica o geógrafo.Para Marcelo Marquesine, um dos coordenadores das campanhasdo Greenpeace na Amazônia, as estradas são “as veias abertas da destruição dafloresta”, as rodovias clandestinas iniciam um ciclo de devastação.A estrada serve primeiro para retirar madeira nobre, emseguida vem a ocupação da terra pública por meio de grilagem. Por fim, o uso daterra para a pecuária extensiva ou para a exploração agrícola em monocultura.“Os madeireiros abrem as estradas, retiram as melhores espécies (ipês, jatobás,mogno e cedro) e na seqüência entra o fazendeiro”, explica Marquesine.A pesquisa do Imazon verificou que as estradas ilegaiscortam inclusive áreas protegidas (como a Estação Ecológica da Terra do Meio, aTerra Indígena do Baú ou mesmo área militar do Caximbo, ambas no Pará) e formamcaminhos vicinais às estradas regulares como a BR-163, que liga Cuiabá (MT) aSantarém (PA) e está em processo de licenciamento ambiental no Ibama para apavimentação.Para que a rodovia asfaltada não venha a aumentar adestruição, o governo federal e a sociedade civil formaram grupos de trabalhosque planejaram medidas mitigadoras da obra, entre elas a criação nos doisúltimos anos de oito unidades de conservação e o estabelecimento de áreas delimitação administrativa provisória às margens BR-163 – de onde não podempartir rodovias vicinais irregulares.Na avaliação de Marcos Ximenes, diretor-executivo doInstituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, e um dos articuladores daparticipação social no projeto de pavimentação da BR-163, a Lei de Concessão deFlorestas vai aumentar a capacidade do Estado em controlar a ocupação daAmazônia e evitar a abertura de pistas irregulares. “O Estado se torna senhorda situação”, opina Ximenes.Para Marcelo Marquesine, do Greenpeace, o projeto deconcessão de floresta é “bom” mas restrito às empresas que trabalham com manejoflorestal e não garante que as madeireiras que financiam a construção deestradas clandestinas saiam da ilegalidade.Segundo ele, a “governança” da região será resolvida commedidas que criem mais alternativas econômicas e resolva a questão fundiária.“Não existe regularização fundiária na Amazônia. Daí se instala o caos.”