Milícia retira à força ocupação em fazenda de deputado

17/01/2007 - 20h55

Raquel Mariano
Da Agência Brasil
Brasília - Cerca de 40 pessoas retiraram à força as 200 famílias que estavam acampadas na fazenda 3J, de propriedade do deputado federal José Janene (PP). As famílias, ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ocupavam desde setembro a área localizada em Guaravera, distrito de Londrina (PR).Duas pessoas foram presas por porte ilegal de arma e 16 suspeitos foram indiciados por exercício arbitrário. Segundo os integrantes do acampamento, durante a madrugada de terça-feira, um grupo de pessoas encapuzadas e armadas chegou ao local e abordou as famílias que estavam dormindo, forçando-as a entrar no caminhão. Elas foram levadas para outro assentamento, localizado em Tamarana, município próximo de Londrina.À noite, a polícia foi ao local para intermediar a retirada dos pertences dos acampados, que, segundo eles, não foi permitido que resgatassem todas as coisas.O assessor do deputado, Roberto Brasiliano da Silva, reconhece que as famílias foram retiradas do local. Mas afirma que uma das lideranças do acampamento, José Damasceno, teria feito um acordo com representantes da fazenda para que as famílias acampadas se retirassem da região. Damasceno teria aceito um dinheiro e as famílias saíram pacificamente. Entretanto, segundo Brasiliano, o conflito aconteceu porque nem todos os acampados foram comunicados sobre esse acordo.Damasceno nega que tenha feito qualquer pacto e contesta. “Estão tentando desvirtuar as barbaridades que eles fizeram com o povo”, diz. "Milícias privadas não podem fazer uma reintegração de posse", afirma Gisele Cassano, da organização de defesa dos direitos humanos Terra de Direitos.O conflito na área é antigo, segundo Cassano. Em outubro do ano passado, alguns integrantes do MST denunciaram que estavam sendo ameaçados por supostos pistoleiros armados que controlavam a entrada e a saída do acampamento. Um carro que saía do acampamento chegou a ser baleado.Ontem, a Terra de Direitos encaminhou nova denúncia para a Ouvidoria Agrária Nacional e Ouvidoria Agrária Nacional e para a Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp). A advogada disse também que vai enviar um comunicado para a Relatoria de Despejos Forçados da Organização das Nações Unidas (ONU) e entrar com uma representação no Ministério Público Federal contra o proprietário da fazenda, José Janene. Janene, que não se candidatou à reeleição, foi investigado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Compra de Votos, por suspeita de envolvimento no esquema conhecido como "mensalão". Janene não foi cassado, porém em dezembro do ano passado, o Ministério Público o denunciou por crimes contra a ordem tributária. Segundo a Procuradoria, a dívida com a Receita Federal chega a R$ 5,7 milhões.