Diretor do ISA diz que falta de planejamento faz expansão agrícola ameaçar índios

06/01/2007 - 18h31

Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A falta de planejamento das ações do Estado permite que a expansão agrícolacoloque em risco a existência de povos indígenas no país. A opinião é docoordenador da organização não-governamental Instituto Socioambiental (ISA),Márcio Santilli. Em entrevista à Agência Brasil, Santilli explicou que ocrescimento das fronteiras agrícolas não leva em consideração as condições devida dos índios e citou, como exemplo, arrendamento de porções de terrasindígenas para plantação de soja.“Nas regiões onde um modelo de monocultura se implanta de forma muitohegemônica, isso faz com que esses povos tenham pouco espaço para desenvolversuas atividades tradicionais e acabem sendo pressionados a se tornar sóciosminoritários desses processos econômicos”, disse. Para Santilli, a situação do povo Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, éuma das mais preocupantes. A ocupação intensa da região e a busca por terraprovocam confrontos entre os Guarani, assassinatos e violência dentro dasaldeias. Estudo do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) revelou que os índiosdessa etnia possuem, na região, um dos menores índices de terra por habitanteentre os grupos indígenas do país. Em algumas áreas, há menos de um hectare (oequivalente a um campo de futebol) por pessoa. “No interior da comunidade têmocorrido fenômenos de suicídio de crianças”, contou Santilli.O Cimi constatou que 12 dos 20 índios assassinados no estado em 2006 sãoGuarani-Kaiowá. Conforme relatório da organização, as principais causas doshomicídios são desentendimentos, brigas de casais e discussões familiares.Considerando que a comunidade é de 35 mil a 40 mil Guarani-Kaiowá no estado,o Cimi estima que os 20 mortos representariam uma taxa de no mínimo 50assassinatos por 100 mil habitantes, quase o dobro da taxa nacional dehomicídios (26,7 por 100 mil).