Índice de assassinatos entre índios guarani do Mato Grosso do Sul é o dobro da média brasileira

05/01/2007 - 19h58

Juliane Sacerdote
Da Agência Brasil
Brasília - Pelos menos 40 indígenas foram assassinados no ano passado, sendo 20 deles do estado do Mato Grosso do Sul, predominantemente entre os índios Guarani-Kaiowá. Esse é o resultado de levantamento preliminar feito pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado ontem (4).Cerca de 55 mil índios vivem no Mato Grosso do Sul. Destes, entre 35 mil e 40 mil são Guarani-Kaiowá. Segundo o relatório, as mortes vão desde desentendimentos e brigas de casais e discussões dentro da própria família.  De acordo com a assessoria do Cimi, dentre os 20 índiosassassinados, 12 são Guarani-Kaiowá. Nos oito homicídios restantes, nãoforam identificadas as etnias, mas os índios viviam em áreas indígenas da etnia. Considerando-se, então, num cálculo preliminar, que vivem entre 35 mil e 40 mil índios nas áreas guarani-kaiowá de MS, nas estimativas do Cimi, os 20 mortos representariam uma taxa de pelo menos 50 assassinatos por 100 mil habitantes. Isso representa praticamente o dobro da taxa nacional de homicídios (26,7 por 100 mil) e é quase 70% superior à taxa do estado de MS (29,3 por 100 mil). O índice se aproxima do verificado na cidade do Rio de Janeiro (56,4) e só é superado pelo registrado em outras cinco capitais: Vitória, Porto Velho, Maceió, Belo Horizonte e Recife. Todos os números são do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e se referem a 2004.Segundo o relatório, as mortes no estado “pedem um olhar maiscuidadoso”. O vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa, diz que a maiorpreocupação do conselho são os assassinatos cometidos pelos própriosíndios, e que a questão fundiária seria o principal motivo. “No MatoGrosso do Sul, acontecem várias tensões externas e internas, e issogera violência. E a não resolução do problema fundiário tensiona essasquestões”, destaca.Feitosa avalia que o uso do álcool pelosíndios é conseqüência da realidade social vivida, já que o problema dasterras não é resolvido. “Esse uso de bebidas alcoólicas agrava as cenasde violência, que podem gerar mortes”, enfatiza o vice-presidente doCimi.Relatório feito pela antropóloga Lucia Helena Rangel, do Cimi, mostra que os índios Guarani-Kaiowá sofrem com um dos menores índices de terra por habitante entre os grupos indígenas do país. Em algumas áreas, há menos de um hectare por pessoa.No ano de 2005, foram registradas 43 mortes, ao todo. Tanto os dados deste ano como os do ano anterior são considerados altos por Feitosa, já que o total de índios no país é de 734 mil. Os dados do estudo são resultado do cruzamento de informações dos técnicos do Cimi que monitoram as aldeias com notícias publicadas na imprensa. O Relatório de Violência contra Povos Indígenas no  Brasil em 2006 deve ser divulgado em abril.