Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Neste segundo trecho da entrevista com Rodrigo Lucena, presidente da Associação Brasileira de Televisões e Rádios Legislativas (Astral), que congrega 64 emissora de todo o país, ele discorre sobre a relação dessas TVs com o parlamento, que as sustenta, e destaca que a evolução desse tipo de veículo é reflexo da democracia brasileira. Lucena também fala do cenário de migração digital, que pode resultar na democratização do acesso à informação, à cultura e à educação no Brasil.A Astral é uma das associações participantes do 1º Fórum Brasileiro de TVs Públicas (leia manifesto), convocado pelo Ministério da Cultura, em parceria com a Radiobrás e a TVE Brasil, e apoio do Gabinete da Presidência da República e da Casa Civil (saiba mais sobre o Fórum).Leia também:Entrevista 1: Fórum de TVs Públicas é oportunidade inéditaEntrevista 3: TVs legislativas são financiadas pelo próprio parlamentoAgência Brasil: Como é o histórico das TVs legislativas na luta por não sofrer interferências políticas no conteúdo dependendo financeiramente do orçamento do legislativo? É tranqüila essa relação?Rodrigo Lucena: As TVs legislativas vão evoluir na medida que o processo democrático evoluir. O parlamento é um modelo muito interessante quando se pensa em um grande conselho editorial. Quando se tem uma gama grande de partidos representados, mesmo que houvesse determina tendência, é muito mais complicado, pois os próprios partidos vão fiscalizar o conteúdo dessas emissoras. Outra peculiaridade é que, por exigência legal, deve privilegiar a transmissão ao vivo, que não há cortes e muito pouca edição. Algumas casas parlamentares têm mais dificuldade em relação a essa independência.ABr: Você sente falta de integração entre as TVs públicas ou as TVs legislativas têm um papel diferenciado?Lucena: Há pontos em que as TVs legislativas cruzam com as demais emissoras. Todas buscam valorizar a identidade e o patrimônio nacional, cidadania e construção de um cidadão consciente que possa votar bem e interferir na qualidade das leis. Como são todas muito novas, havia um desconhecimento sobre o que cada uma estava produzindo. Esse é um momento de reconhecimento e aproximação e que pode levar à construção de uma rede com troca de informações e produtos. Não tem como finalidade a audiência, mas programas que sirvam ao interesse público, independentemente do interesse comercial. Não sou contra o patrocínio, acho que a própria sociedade deve regular isso.ABr: Como está a discussão sobre o espaço na TV digital?Lucena: Da forma como foi colocada, não atende às TVs legislativas porque não há sequer uma comunicação muito clara de como vai ser. O que foi colocado é que haverá quatro canais federais. Estaríamos num desses canais, denominado de Canal da Cidadania, mas nada disso está muito claro e não há ainda uma regulamentação. Com a escolha do padrão japonês, há ainda oito ou nove canais, que estariam entre 60 e 69. Esses canais, no padrão americano, estariam reservados para outros fins. Há um projeto na Câmara Federal para que esses canais sejam utilizados pelas TVs públicas, incluindo as institucionais. Da maneira como está acho difícil contemplar todos esses canais. Acho que é muita gente trafegando num mesmo canal. Me parece que um canal pode ser dividido em até oito canais.ABr: Os canais podem ser subdivididos em oito?Lucena: É. A adoção do MPEG 4, um modelo de identificação que o sistema brasileiro pretende incorporar substituindo o MPEG 2, permite um ganho na banda usada para trafegar o canal digital conseguindo até oito canais em Standard Definition (com qualidade semelhante a de um DVD). Na medida em que você vai aumentando a definição, vai precisando de uma banda maior. Você pode ter um ou dois canais de alta definição. Mas nada disso ainda está muito claro pra gente. Esperamos que o fórum possa contribuir.