Bayer nega que milho resistente a agrotóxico cause danos à saúde

21/11/2006 - 20h46

Daniel Merli e Elaine Patricia Cruz
Repórteres da Agência Brasil
Brasília e São Paulo - A empresa alemã Bayer CropScience negou que as sementes do milho transgênico LibertyLink, desenvolvidas para serem mais resistentes a agrotóxico, possam causar danos à saúde humana ou ao meio ambiente. A organização ambientalista Greenpeace realizou um ato hoje (21), em frente à empresa, pedindo que o milho transgênico não seja liberado. Como ele é feito para ser resistente a um herbicida fabricado pela Bayer, o temor do Greenpeace é que o excesso de agrotóxico contamine o ambiente ou os consumidores do produto.Em nota divulgada à imprensa no final da tarde, a empresa alemã afirma que o herbicida "é um produto utilizado na agricultura há mais de 20 anos sem relato de danos à saúde humana". "Todas as avaliações de risco mostraram que o produto é seguro aos trabalhadores que aplicam o herbicida, aos consumidores e ao ambiente".O agrotóxico da Bayer é feito à base de glufosinato de amônio. Segundo o Greenpeace, a Autoridade Européia para Segurança Alimentar fez testes apontando que alta dosagem de glufosinato tem efeitos negativos sobre a fertilidade feminina. Na União Européia, onde fica a sede da Bayer, o milho LibertyLink é proibido, segundo a organização.O gerente de tecnologia da área de BioScience da empresa, André Abreu, considera que a diferença entre o milho tradicional e o milho modificado geneticamente só ocorre para o agricultor, não para o consumidor. “É um milho saudável e saboroso como qualquer outro milho que chega à mesa”, disse, em entrevista hoje à Agência Brasil. “O diferencial dele é que permite ao agricultor, ao invés de utilizar uma série de produtos químicos antigos para limpar o mato da lavoura, usar um produto moderno e que é biodegradável”, acrescenta. Segundo ele, o milho transgênico tem importância ambiental porque não deixa resíduo no solo e social porque essa tecnologia simplifica o trabalho do agricultor.Na manhã de hoje, manifestantes da organização ambiental Greenpeace protestaram em frente ao prédio da empresa, em São Paulo, exigindo a não liberação comercial dessa variedade de milho transgênico. No documento enviado hoje pelo Greenpeace à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a organização alertou para os riscos da liberação do milho geneticamente modificado, dizendo que “a quantidade de resíduo de agrotóxico no milho transgênico é muito maior do que a registrada no milho convencional” e que há riscos ao meio ambiente e à saúde humana.Para Abreu, a discussão sobre a possível aprovação do milho transgênico pela CTNBio pode ter ganhado importância no cenário nacional por causa da aprovação de uma nova legislação nessa área pelo atual governo.“Nós entendemos que essa discussão hoje adquiriu uma certa importância porque desde que o governo Lula aprovou a nova legislação para o Brasil, esse é o primeiro momento que a CTNBio se reúne para decidir sobre produtos no âmbito comercial. Decidia-se muito sobre pesquisa, mas agora há uma série de produtos para uso comercial”, afirmou Abreu, acrescentando que essa variedade de milho já foi aprovada em vários outros países como Japão, Coréia, Austrália, Canadá, Estados Unidos e Argentina.Abreu explicou que, como a tecnologia do milho transgênico deve ser adaptada a cada país e aos diferentes solos ou climas, mesmo que a CTNBio aprove sua comercialização agora, este só deverá entrar no mercado nacional em dois anos. “Se a CTNBio aprovar, aí nós temos que preparar as sementes. Isso demora mais ou menos uns dois anos para ter um volume suficiente para atender a demanda dos lavradores.”Qualquer cidadão brasileiro pode conhecer e ter acesso ao relatório com todas as informações e resultados dos estudos sobre o milho transgênico. Segundo Abreu, basta escrever para a CTNBio e solicitar uma cópia na íntegra do relatório.