Bairros muçulmanos xiitas de Beirute estão praticamente destruídos

15/08/2006 - 21h41

Juliana César Nunes
Enviada especial
Beirute (Líbano) - O cessar-fogo começou ontem (14), mas cerca de 24 horas depois, nos principais bairros muçulmanos ao sul e a oeste de Beirute, ainda era possível ver a fumaça deixada pelas explosões. A região foi identificada por Israel como quartel-general do Hizbollah e, por isso, acabou sendo bombardeada pesadamente durante todo o conflito. Inúmeros prédios residenciais e comerciais estão no chão. As passarelas e viadutos ficaram aos pedaços: passaram a ser ligadas simbolicamente com compridas bandeiras do Líbano. Por conta de poeira e do cheiro de lixo, as pessoas usam máscaras cirúrgicas ao caminhar pelas ruas, engarrafadas de carros e motos. A maior parte dos libaneses moradores dessa região agora busca pertences ou até mesmo parentes entre os escombros. Muitos chegam a varrer o chão, na tentativa de retirar os pedaços de cimento, passando a sensação de que acreditam na importância de recomeçar por algum ponto. Enquanto isso, diversos grupos de crianças correm para todos os lados com cartazes onde estão estampadas fotos do principal líder do Hizbollah, Hassan Nasrallah. “Nem todo mundo aqui é do Hizbollah. Mas depois do que aconteceu às pessoas que vivem aqui, as coisas estão começando a mudar”, conta o motorista libanês Avo Yeremian. “Vamos construir tudo de novo. Já fizemos isso uma vez.”O comerciante Moussa Barakat, libanês naturalizado paraguaio, diz ter visto o edifício onde morava com as duas filhas, ao sul de Beirute, cair no chão às cinco da manhã. “A sorte é que não estávamos em casa nessa hora. Fomos dormir em outro lugar com medo das bombas. Mas quatro vizinhos meus morreram na hora”, lamenta. “Eu quero ficar bem longe daqui por algum tempo. Meus filhos não agüentam mais”.