Promotor diz que assassinato de rapaz que poderia denunciar tortura policial foi "coincidência"

13/06/2006 - 18h06

Márcia Wonghon
Repórter da Agência Brasil

Recife – O promotor do Ministério Público Federal Fernando Cavalcanti Mattos disse hoje (13) que foi uma "coincidência" o assassinato ocorrido na madrugada de ontem do adolescente de 16 anos que poderia denunciar um caso de tortura policial. Ontem ele deveria prestar depoimento no fórum do Recife sobre o assunto.

O rapaz, junto com outros 12 jovens, teria sido obrigado a pular de uma ponte no rio Capeberibe por policiais militares do 16º Batalhão, durante o Carnaval deste ano. Na ocasião, dois deles, um de 17 anos e outro de 15 anos, morreram afogados porque não sabiam nadar.

"Acho prematuro afirmar que foram os policiais os autores do homicídio, que ocorreu quando a vítima voltava para casa, depois de passar à noite em um pagode", disse.

O promotor afirmou, porém, que o juiz responsável pelo caso, Abner Apolinário, está preocupado com a possibilidade de haver relação entre o assassinato e o processo que investiga a prática de violência policial. O juiz já ouviu 10 dos 12 adolescentes envolvidos no episódio.

Segundo Mattos, o adolescente assassinado tinha vida pregressa, história de antecedentes criminais e estava em liberdade assistida por ter praticado delitos. Ele informou que, no Carnaval, o jovem havia sido detido por causa do roubo de uma máquina fotográfica, e se encontrava em uma viatura policial antes de ter sido agredido junto com outros jovens.

Uma nova audiência foi marcada para amanhã (14), quando serão ouvidas duas testemunhas, uma jovem que se encontrava na companhia dos rapazes e presenciou a agressão praticada contra eles e uma senhora que ajudou o grupo a sair do Rio Capibaribe.

Se forem condenados, os policiais poderão pegar de 12 a 30 anos de reclusão, já que o crime foi qualificado como hediondo, ou seja, praticado por motivo fútil, sem chance de defesa das vítimas.