Palocci chegou ao ministério da Fazenda após coordenar programa de governo de Lula

27/03/2006 - 22h55

Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Antonio Palocci chegou ao Ministério da Fazenda em 2003, após coordenar o programa de governo do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha presidencial de 2002. Médico sanitarista, nascido em 4 de outubro de 1960, conforme informa sua biografia oficial no site do Ministério da Fazenda, Palocci assumiu a coordenação do programa de governo de Lula logo após o assassinato do então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, que ocupava o cargo até janeiro de 2002.

No início de sua carreira política, o ministro militou na extrema esquerda do partido - foi vinculado ao grupo Liberdade e Luta - conhecido como Libelu - de inspiração trotskista. À frente da administração de Ribeirão Preto, cargo para o qual foi eleito pela primeira vez em 1993 e ao qual voltaria em 2000, promoveu inovações consideradas "liberais", entre elas a privatização da companhia telefônica local.

Ele também foi um dos deputados federais petistas mais votados em 1998. Nessa época, foi presidente estadual do PT. O ex-ministro da Fazenda também coordenou a equipe que realizou a transição de governo entre FHC e Lula.

Como resultado do chamado "esforço fiscal" durante a sua administração no Ministério da Fazenda - geração de superávit nas contas do governo, para afiançar capacidade de arcar com as dívidas -, o país teve o perfil de sua dívida melhorado e manteve sob controle a inflação.

Enquanto o Tesouro, vinculado a Palocci, administrava a herança de uma dívida interna que chegou, este mês, a R$ 1 trilhão, o Banco Central de Henrique Meirelles manteve altos os juros básicos da economia, como instrumento de combate à inflação. Quase metade da dívida está vinculada a essa mesma taxa de juros.

Nos três primeiros anos em que Palocci esteve à frente da Fazenda, a economia do país teve crescimento médio inferior a 3% ao ano. Essa performance gerou críticas de integrantes do governo, como o vice-presidente José Alencar, e o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, amenizadas pelo apoio constante de setores ligados ao mercado financeiro e dos organismos multilaterais de crédito, entre os quais o Fundo Monetário Internacional.

Desde o ano passado, o nome de Palocci passou a ser envolvido em investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos (CPI dos Bingos), criada para apurar ligações dessas casas de jogo com o crime organizado e o financiamento ilegal de campanhas eleitorais.

Um ex-assessor de Palocci em Ribeirão, Rogério Buratti, passou a acusá-lo de ligação com fraudes em contratos da prefeitura para favorecer empresas em troca de propina. O esquema envolveria outros ex-auxiliares do então ministro, entre eles Vladimir Poletto e Ralf Barquete, morto em 2004 vítima de câncer.

Palocci nega todas as acusações. E também disse, em depoimento à CPI dos Bingos, que não manteve contatos com os ex-assessores depois de ter assumido o ministério, em 2003.

No início deste mês, o motorista Francisco das Chagas Costa afirmou ter visto o ministro em uma casa alugada por Poletto no Lago Sul, em Brasília, com a finalidade de servir de base para reuniões com empresários interessados em obter vantagens em contratos com o governo e para festas com garotas de programa. A informação foi confirmada à imprensa pelo caseiro Francenildo Santos Costa em depoimento à CPI dos Bingos.

Há duas semanas, dados do extrato de uma conta poupança de Francenildo na Caixa Econômica Federal foram divulgados por uma revista semanal de informação. A violação do sigilo bancário do caseiro passou a ser investigada pela Polícia Federal. Hoje à tarde, em depoimento à PF, o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, admitiu que recebeu de um assessor o extrato do caseiro e que o repassou a Palocci. No mesmo momento, o ministro encaminhava ao presidente Lula carta com seu pedido de demissão.