Na carta a Lula, Palocci diz que permanência no cargo não seria contribuição ao governo

27/03/2006 - 23h33

Brasília, 27/3/2006 (Agência Brasil - ABr) - O Ministério da Fazenda divulgou a íntegra da carta enviada na tarde de hoje (27) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual o ex-ministro Antonio Palocci solicita o afastamento do cargo. De acordo com ele, a permanência no cargo "neste momento de exacerbado conflito político, e quando sou alvo de todo tipo de maldades e acusações, não mais contribui para o avanço da obra do governo de Vossa Excelência, nem serve ao melhor interesse do Brasil".

Palocci nega, na carta, qualquer participação "nem de mando, nem operacional, no que se refere à quebra do sigilo bancário de quem quer que seja". Embora o presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, tenha afirmado em depoimento na Polícia Federal que entregou a Palocci o extrato da conta bancária do caseiro Francelino dos Santos Costa, o ex-ministro reafirma que não divulgou nem autorizou divulgação de informações sigilosas. "Sou consciente das leis e da responsabilidade do meu cargo. Sou consciente das regras da democracia e do Estado de Direito", diz o ministro.

Ele menciona "um movimento sistemático para lançar dúvidas e suspeitas sobre o meu trabalho e a minha pessoa", iniciado em agosto do ano passado. E afirma que durante todo o final de 2005 tentou esclarecer as questões surgidas a respeito das denúncias, tanto por meio de entrevistas à imprensa quanto por meio de audiências no Congresso Nacional.

"No início deste ano, compareci perante comissão parlamentar de inquérito do Senado Federal, antes mesmo de ser convocado, para prestar esclarecimento amplo e direto sobre todas essas questões. Julguei haver refutado, naquele momento, em termos objetivos, a inconsistência das acusações e ter restabelecido as condições de trabalho deste Ministério. Entretanto, Senhor Presidente, a luta política se exacerbou nas últimas semanas e questões já superadas foram trazidas novamente à pauta", diz o ministro na carta.

Antônio Palocci encerra o documento citando os avanços alcançados na área econômica, por conta da política implementada por ele desde 2003, e a aposta de que a economia não vai ser afetada pelo seu afastamento: "Tenho orgulho de haver colaborado para a implementação da exitosa política econômica de Vossa Excelência, que tanto contribuiu para a estabilidade de nossa economia, com claros benefícios para as parcelas mais pobres de nosso povo. O controle definitivo da inflação, os números recorde de geração de emprego, a evolução do crédito, a boa administração da dívida pública e, particularmente, o espetacular desempenho das contas externas do País são conquistas do Brasil para as quais muitos governos colaboraram e seu governo consolidou. Estou extremamente feliz por haver contribuído para alcançar esses resultados. O Brasil está mais forte, mais preparado e maduro, para, sob a liderança de Vossa Excelência, seguir adiante trilhando esta política, no caminho do desenvolvimento econômico e social".