Ex-presidente dos Correios diz que sofreu pressão por ter retirado grandes clientes das franquias

20/10/2005 - 19h15

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ex-presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Hassan Gebrin, disse no depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga irregularidades na estatal que chegou a sofrer pressões políticas por ter retirado os grandes clientes das franquias, concentrado o atendimento nos Correios. De acordo com ele, que depõe há mais de quatro horas, ao assumir a empresa em 2000, ele tomou conhecimento de uma série de irregularidades em contratos com franqueados, que teriam sido feitos sem licitação.

Segundo ele, na tentativa de diminuir os prejuízos desses contratos, em 2002 ele determinou que grandes clientes como bancos passassem a operar diretamente com a estatal. Gebrin disse ainda que autorizou a compra de 1500 máquinas digitais para os franqueados por serem esses aparelhos imunes à fraude, aumentando o controle da estatal sobre os franqueados.

"Houve uma reação muito forte dos franqueados, que conseguiram, inclusive, fazer uma pressão política contra mim. Vários parlamentares foram conversar comigo sobre o assunto, pedindo que essas decisões fossem revistas", disse Gebrin, para quem o Congresso pode ser considerado culpado pelas possíveis irregularidades nas relações entre os Correios e os franqueados. "Em 1998 e em 2004 o Congresso autorizou várias renovações de contratos, mesmo havendo pareceres do TCU alertando contra irregularidades". Os membros da CPMI não perguntaram quais parlamentares o teriam pressionado.

Gebrin discordou que o serviço das franqueadas eram melhores que da estatal e disse ser contrário à volta dos grandes clientes para as franquias, ocorrida em 2005. O relatório do TCU mostra que em 2005 os Correios devem deixar de lucrar quase R$ 10 milhões por conta da perda desses clientes.

Ao responder os parlamentares, Gebrin disse desconhecer qualquer relação entre a Giacometi, empresa que tinha relação com o empresário Marcos Valério de Souza, e a SM&B, que tinha o contrato dos Correios. Ele disse ainda que, apesar de conhecer alguns dos proprietários da empresa Politec, nunca atuou a favor da empresa de informática, que tem contratos com os Correios.