Olga Bardawil
Repórter da Agência Brasil
Fortaleza - Celina Cossa, presidente da União Geral das Cooperativas de Maputo (Moçambique) é uma mulher de 51 anos, que diz nunca ter deixado de ser uma camponesa, embora coordene uma entidade que reúne mais de 5.500 famílias, administra uma caixa de poupança e empréstimo e ainda viaja pelo mundo para contar o que aprendeu em mais de 20 anos de luta. O objetivo, como ela mesmo diz, é "aprender mais".
Em Fortaleza, Celina Cossa participou da Expo Brasil 2005, megaevento sobre desenvolvimento local que se encerra hoje (15). Ela contou um pouco dessa história que começou em 1980, num país devastado por quase duas décadas de guerra civil, após a independência, em 1974.
Ela defende a idéia de que o desenvolvimento local é tarefa da comunidade. A decisão, segundo ela, não deve vir de cima. "A iniciativa pode sair do topo, mas é preciso saber descer para a base. Tem que respeitar as culturas, as tradições, valorizar as idéias de todos. Tudo aquilo que nós somos hoje na União Geral da Cooperativas, tudo o que nós realizamos, não estava escrito. Mas nós escrevemos", diz Celina.
Ela dá o exemplo do microcrédito, que foi a alavanca das cooperativas que, conta, dependiam da ajuda de organizações governamentais e não governamentais. "Duas ONGs européias nos deram sementes para o plantio. Sementes de milho e amendoim. Mas eu tive uma idéia. Em vez de distribuir as sementes gratuitamente, eu propus aos meus companheiros da cooperativa que a gente comprasse as nossas próprias sementes pagando um preço simbólico". Consultadas, as instituições doadoras concordaram, e o dinheiro levantado foi o ponto de partida para a caixa de crédito de quatro cooperativas.
Celina Cossa aponta com orgulho os frutos do trabalho da entidade. Postos de saúde e escolas, inclusive uma escola técnica de nível médio, foram montados e funcionam com recursos da união, que paga até mesmo os salários de funcionários e professores.
Para Celina, vir ao Brasil foi uma experiência rica, que lhe mostrou a importância do contato entre agentes de desenvolvimento de outros países. "Temos todos uma realidade muito semelhante. Estas mulheres aqui do Brasil que fazem o seu artesanato de palha tão rico só precisam de apoio. Porque todos nós temos capacidade e só precisamos de uma oportunidade", diz ela.
Ela aprova a iniciativa do projeto "Cooperar em Português", que vai manter um centro de intercâmbio sobre experiências de desenvolvimento local a partir da internet, entre os países lusófonos. "Vamos aprender mais uns com os outros", avalia. "Enquanto tiver um irmão passando fome, eu sei que ainda não fiz tudo o que tinha de fazer".