Adriana Franzin
Da Agência Brasil
Brasília - A integração do capitalismo brasileiro ao movimento da globalização impede a concretização das reformas pretendidas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, afirma o advogado e ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, fundador do PT e representante de correntes minoritárias dentro do partido. Sampaio fez as declarações em palestra hoje a integrantes da Coordenação dos Movimentos Sociais, que reúne diversas entidades do setor.
"Dentro da estrutura do capitalismo, não há mais reformas que possam resolver os problemas do povo brasileiro. Porque, se chega ao poder um partido que há 25 anos fala dessas reformas todos os dias, e se nós não conseguimos nenhuma vitória nesse governo, alguma razão tem: não há mais condições objetivas de conseguir isso dentro do capitalismo brasileiro. Ele já está engrenado numa engrenagem muito maior: a da globalização", disse Sampaio.
"Os efeitos da crise do modelo neoliberal, da corrupção, no avanço da luta dos trabalhadores" foi o tema do debate de que participou Sampaio. "Eu posso dizer que não há mais condições (de promover reformas) porque fui a pessoa que coordenou o plano de reforma agrária do governo Lula. Propusemos uma meta modestíssima e não foi possível porque não havia recursos, porque nós temos que pagar uma dívida", disse ele, em alusão à proposta de reforma agrária que encaminhou ao governo Lula no final de 2003, segundo afirmou na época, a pedido do próprio presidente.
Na visão do advogado, a unidade entre os movimentos sociais hoje no Brasil na avaliação da conjuntura política e econômica pode proporcionar a união na luta. "Se todos nós somos contra a política econômica do Palocci, se todos nós somos favoráveis à reforma agrária e se todos nós somos contra a corrupção, por que cada um de nós não faz o seu discurso isoladamente? Porque nós queremos nos unir para ter força", argumentou.
Sampaio também propôs como estratégia aos representantes dos movimentos sociais reunidos no evento exigir a apuração das denúncias integralmente, promover um discurso que mostre a ligação entre a corrupção política e o neoliberalismo e exigir modificações na política e na equipe econômica do governo. "A massa vai ter uma desilusão brutal, mas é preciso que ela identifique o grupo que estava contra a corrupção, que estava contra a política econômica, que estava contra o que está acontecendo", disse, em referência aos movimentos sociais que apóiam o governo Lula, mas não estão ligados diretamente ao PT.
Entre as entidades que participam da Coordenação dos Movimentos Sociais estão a Central Única dos Trabalhadores, o Movimento dos Sem Terra, a União Nacional dos Estudantes, Pastorais da Igreja Católica, a Consulta Popular, o Movimento Evangélico Progressista, entre outras.