Após 34 depoimentos, relator de sindicância afirma não ter elementos para comprovar mesadas

30/06/2005 - 21h54

Iolando Lourenço e Gabriela Guerreiro
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - O presidente e o relator da Comissão de Sindicância da Câmara, deputados Ciro Nogueira (PP-PI) e Robson Tuma (PFL-SP), fizeram um balanço das atividades da Comissão que investiga as denúncias do suposto pagamento de mesadas a parlamentares em troca de apoio ao governo. Os deputados ainda não chegaram a uma conclusão sobre suposta existência das mesadas para os parlamentares na Câmara. "Seria uma irresponsabilidade tanto do corregedor quanto dos membros da Comissão dizer que já temos subsídios para dizer que alguém recebia mesada. Vamos continuar investigando", afirmou Ciro Nogueira.

A comissão iniciou os trabalhos no início de junho, e até agora já ouviu 34 depoimentos de pessoas citadas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como supostamente envolvidas no pagamento de mesadas. Segundo o presidente da Comissão, faltam ainda ser ouvidos 28 depoimentos.

A Comissão de Sindicância vai suspender os trabalhos formais com o recesso parlamentar do Congresso Nacional no mês de julho, que deve ter início na semana que vem. Os depoimentos serão retomados na primeira semana de agosto. Ciro Nogueira informou que já estão agendados para a primeira quarta-feira de agosto a presença do tesoureiro do PT, Delubio Soares, do secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, e do secretário nacional de comunicação do PT, Marcelo Sereno. Todos foram citados por Jefferson como envolvidos no suposto esquema de pagamento de mesadas.

O presidente da Comissão afirmou que já é possível notar diferenças entre os depoimentos colhidos na Corregedoria da Câmara. Os membros da Comissão de Sindicância vão aproveitar o recesso parlamentar para, informalmente, trabalharem nas checagens das contradições. "Alguns depoimentos estão se conflitando, por isso vamos checar", afirmou Nogueira. Os membros da Comissão também enviaram ofício à Polícia Federal solicitando ajuda para localizar seis pessoas citadas por Jefferson que não foram encontradas para depor.

O relator da Comissão, deputado Robson Tuma, disse que vai aproveitar o recesso para cruzar os depoimentos prestados ao Conselho com informações colhidas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga corrupção nos Correios, e com as investigações em andamento no Conselho de Ética da Câmara. Ele adiantou que os membros da Comissão de Sindicância pretendem prorrogar os trabalhos por mais 20 sessões da Casa. A possibilidade está prevista pelo Regimento Interno da Câmara.

Tuma informou que os depoimentos já somam 5.400 páginas em mais de 30 horas de trabalhos da Comissão. Ele considerou como principais até agora os depoimentos prestados pelo deputado Roberto Jefferson e pelo empresário Marcos Valério, diretor da agência de publicidade SMP&B, apontado por Jefferson como responsável por efetivar o pagamento das mesadas aos parlamentares.

O relator não descarta a possibiliade de Roberto Jefferson voltar a depor na Comissão de Sindicância. Tuma também criticou o parlamentar pela forma "a conta gotas" com que realiza as denúncias. "É muito ruim para o país que a cada 15 dias ele solte uma nova denúncia", ressaltou Tuma.