Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O laudo apresentado pela família de Virgílio Gomes da Silva (conhecido como "Jonas" na militânia contra o regime militar) reacende o debate sobre as buscas de corpos de desaparecidos políticos, segundo o ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial de Direitos Humanos.
"Nós já sabíamos que o corpo foi enterrado no cemitério de Vila Formosa. Sabemos que há, pelo menos, quatro pessoas enterradas lá: Antônio Lucena, Alceri Maria, Virgílio Gomes da Silva e José Maria Ferreira de Araújo", disse Nilmário, acrescentando que "para procurar esses quatro - o que é importantíssimo – teríamos de ter informações novas, que só podem vir de pessoas que participaram do enterro, souberam sobre enterros de pessoas acusadas de terroristas nessa época. Tomara que o caso do Virgílio incentive alguém que trabalhou no IML ou nos cemitérios de São Paulo a nos dar novas informações. Se tiver qualquer nova informação, reabriremos a procura desses corpos".
Nilmário lembrou que em 1991 houve uma grande procura no cemitério de Vila Formosa, zona leste da capital paulista, mas as modificações e obras realizadas no local impediram a localização. Segundo ele, o cemitério abriga hoje mais de três milhões de corpos. "Houve modificação, obras e hoje tem um bosque no lugar onde supostamente deveria estar a quadra", observou.
Para Nilmário, a descoberta do laudo necroscópico do Instituto Médico Legal corrigirá um "erro histórico". Ele informou que a família foi indenizada pela Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e já possuía um atestado de óbito. "Mas, o atestado de óbito não dizia a causa da morte - dizia Lei 9140. Foi um avanço naquela época. Agora, já que há informações abundantes sobre a morte dele, com documentos oficiais, a família poderá dirigir-se a uma Vara de Registro Público e, em um processo muito simples, administrativo, pedir retificação do atestado de óbito", disse o ministro.
Nilmário Miranda informou que somam 400 os mortos e desaparecidos políticos no país. "Tivemos muita tortura em nossa história, principalmente na ditadura", disse, acrescentando que a prática continua sendo exercida no Brasil, apesar da Constituição classificar a tortura como um crime inafiançável e imprescritível.
"É preciso que as pessoas denunciem a tortura para que nós possamos combatê-la. Já há mais de 240 pessoas condenadas no Brasil, em primeira instância, pela prática da tortura. Isso é um ótimo sinal, que o nosso país está avançando no caminho da civilização e da democracia", afirmou.