São Paulo, 22/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - Entrevista com o presidente da Câmara de Comércio Brasil-China, Charles D’tang, abordando questões relaonadas à viagem do presidente Lula à China.
ABr - Qual a importância da visita do presidente brasileiro à China?
Charles - A visita do presidente Lula é de suma importância, porque consolidará a parceria estratégica e comercial entre o gigante da Ásia e o gigante da América do Sul. Essa parceria impõe muito respeito em todos os blocos existentes do atual cenário mundial.
ABr - O senhor acredita que a expectativa seja positiva para essa relação?
Charles - Sem dúvida. Com essa importante visita do nosso presidente, os laços econômicos de amizade entre o Brasil e China, vão se estreitar cada vez mais e nós vamos ver um crescimento ainda maior do comércio entre os países e um volume de investimentos da China no Brasil crescendo, e também o ministro Walfrido do Mares Guia está na comitiva para assinar um acordo de turismo. Como a China hoje tem 400 milhões de pessoas na classe média e 20 milhões de milionários, isso pode ser uma importante fonte de divisas para o Brasil e dinamizar a nossa área turística.
ABr - Que produtos o Brasil pode exportar para a China e quais a China pode enviar ao Brasil?
Charles - Na verdade, nós mal começamos a arranhar a superfície de oportunidades do mercado chinês para o Brasil. Você pode notar pelos números que, as exportações brasileiras para a China, começaram a crescer em volume significativo ano após ano, a partir de 2000. A Feira de Promoção Comercial Brasileira que a nossa Câmara realizou em Xangai, em 2002, foi a primeira na China desde 84. Então, durante longo tempo, não focalizamos muito o mercado chines, embora o mundo já cobiçava esse mercado. Assim, nós estamos começando a aumentar muito as nossas produções em três segmentos, a das exportações tradicionais, representado por minério de ferro, soja, aço, madeira, etc. Estamos vendo também uma iniciação e crescimento de exportação dos produtos que eram proibidos antes, que, com o acordo de queda de barreiras sanitárias, estão permitindo a exportação de carnes de aves, de suínos, e no terceiro segmento, é que haverá também uma grande explosão, que é os novos nichos de mercado. Desta forma a nossa Câmara de Comércio Brasil-China, fundada em 1986, com sede em São Paulo e 12 escritórios no país, ajudou a colocar o Café Pelé na China, o Suco del Valle, o leite Longa Vida; colocamos telhados de aço industrial, de uma empresa média do Rio de Janeiro, de uma tecnologia inédita, que não existia no maior canteiro de obras do mundo, que é a China. Há ainda uma série de outros produtos que estão sendo colocados na China por meio da nossa Câmara.
ABr - Qual nichos de mercado os empresários brasileiros poderão encontrar na China agora?
Charles - Nós podemos exportar biscoitos, aumentar a venda de automóveis, veículos e aviões. Podemos aumentar autopeças, podemos aumentar nossas exportações de alimentos, podemos aumentar o comércio de bebidas ou seja, em quase todos os setores, mal começamos arranhar a superfície do mercado.
ABr - Há um mercado potencial na China para os produtos brasileiros?
Charles - Sem dúvidas. Acho que vamos verificar que se nós tivermos o preço e a qualidade, podemos exportar muitos produtos. Se você entrar no supermercado chinês, não vê nada do Brasil a não ser recentemente, o Café Pelé e esses produtos que mencionei, e se você entrar no hipermercado aqui, verá que está cheio de produtos chineses. Então, nós temos muito trabalho para realizar para educar os chineses a consumir cada vez mais produtos brasileiros. Moda. Grandes grifes brasileiras pretendem chegar lá, estilistas brasileiros querem entrar na China e não há nenhuma razão para temer, porque a China, embora imbatível na exportação de confecções, é a maior compradora de moda do mundo. Você imagina quantos bens de consumo que 400 milhões de pessoas da classe média, podem consumir?
ABr - No que diz respeito à situação cultural, temos uma grande diferença com relação a população chinesa, mesmo assim é possível vencer a barreira cultural para criar um hábito de consumo de produtos brasileiros?
Charles - Em muitos setores, sim. Na maioria dos setores, sim. Acredito que o mais importante é utilizar um canal como o nosso para entender como fazer negócios com a China, inclusive sobre o aspecto cultural de costumes e de mentalidade chinesa.
ABr - E nessa viagem o senhor diria que tenhamos a possibilidade direta de fazer negócios já nessa primeira rodada?
Charles - Acho que o presidente Lula está indo tratar dessas, vamos dizer, aproximações políticas e de amizade entre as nações. Cabe aos empresários depois desenvolverem os canais, de maneira correta, porque a grande parte dos empresários brasileiros vai à China garimpar. Às vezes, nem levam cartão pessoal, nem vão com folhetos em chinês, e não vão também agendados e não sabem com quem estão lidando, se os parceiros são sérios ou não. Tudo isso, a nossa Câmara, com sete escritórios na China pode ajudar, vamos dizer, encurtar tempo, esforço e economizar dinheiro.
ABr - Como o empresário brasileiro deve se comportar para poder fazer negócios com os chineses?
Charles - Bem, como disse, em primeiro lugar, no mínimo ter cartões com chinês no verso. Seria muito bom folhetos em chinês, porque a maioria dos chineses não fala inglês. Entender que na China as pessoas gastam muito dinheiro e tempo num ritual de banquetes para primeiro criar um clima para poder fazer amizade, para então ganhar a confiança para poder fazer negócios. Assim, por exemplo, você deve entregar os cartões com as duas mãos, como sinal de respeito. Na Ásia existe uma cultura de deixar lembrancinhas após cada reunião ou cada encontro, existe uma série de conhecimentos culturais e costumes que o brasileiro deve entrar em contato com a Câmara para aprender antes de ir para a China e principalmente saber, do consulado, da embaixada, agendamentos com empresas sérias, para saberem com quem estão negociando.