Fernando Henrique quer discutir funções para ex-presidentes

22/05/2004 - 16h09

São Paulo, 22/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse hoje, durante a inauguração do instituto que leva seu nome, em um hotel na capital paulista, que o Brasil tem um desenvolvimento institucional "suficientemente variado que permite e mesmo requer que se discutam funções para um ex-presidente que não sejam exclusivamente atividades como no passado, de um silêncio perpétuo, de desistir de ter uma posição, de opinar e participar da vida do país".

Ele afirmou que o Instituto Fernando Henrique Cardoso (IFHC), não servirá de "plataforma eleitoral futura", mas que será uma organização apartidária."Creiam-me", ressaltou. Mas ponderou dizendo que seria ingênuo imaginar que alguém com sua experiência, ficasse "fora do jogo, como expectador"."Quem está fora do jogo, não tem amor a seu país, amor a seu povo, não tem amor à humanidade, e às idéias", afirmou.

Fernando Henrique Cardoso disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi convidado para a inauguração mas, com viagem à China, mandou uma carta e pediu que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o representasse no evento.

Ele explicou que o instituto deverá ter contato com o governo mas que não existe um objetivo de uma ação com articulação burocrática. Salientou que representantes do governo serão convidados para debates, entretanto sem a intenção "de fazer lobby junto ao governo", completou.

Participaram da entrevista coletiva o ex-presidente uruguaio Júlio Sanguinetti e os ex-primeiros ministros de Portugal, Antônio Guterres, e Lionel Jospin, da França, o sociólogo Manuel Castells e Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores de Fernando Henrique.

Sanguinetti, bem humorado, brincou ao declarar que os ex-presidentes são peças decorativas como "grandes vasos chineses", tornando-se difícil saber o que fazer com eles. Já em outro momento da coletiva, de forma reflexiva, declarou que normalmente no cotidiano "discutimos os assuntos mais urgentes, não os mais importantes. Como ex-presidentes, podemos discutir os assuntos importantes".

O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, que participou da inauguração, não esteve presente na coletiva.Ele falou durante uma hora no seminário inaugural sobre a governança global democrática para autoridades e convidados presentes no auditório do hotel. Clinton elogiou o presidente Lula no que se refere à política econômica e as reformas estruturais. Elogiou também o trabalho desenvolvido pelo Brasil no combate e prevenção a Aids.

Clinton afirmou que é necessário democratizar as instituições internacionais atendendo as populações carentes, por meio dos países mais ricos, garantindo a criação e manutenção de programas de saúde e educação. Ele reconheceu a importância das organizações não-governamentais (ONGs) na missão de diminuir as desigualdades no mundo.

Segundo o ex-presidente norte-americano, o grande desafio atual é de que a democracia tem de garantir a igualdade social além de respeitar os direitos das minorias. E admitiu que fica difícil falar em democracia quando uma em cada quatro crianças no mundo morre de diarréia e malária.