Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Eunápolis(BA)- As pastagens do sul da Bahia estão dando lugar às plantações de eucalipto. A troca é em razão da construção da maior fábrica do mundo de celulose branqueada na região, que deve entrar em operação no segundo semestre de 2005. A celulose branqueada é a matéria-prima para a produção do papel branco.
A Veracel, dona da fábrica, possui atualmente cerca de 70 mil hectares de plantação de eucaliptos clonados. A equipe da empresa selecionou as melhores plantas e vem reproduzindo cópias idênticas delas nas terras. O coordenador do Viveiro da empresa, Nery Fagundes, explica que a clonagem não significa que as plantas foram geneticamente modificadas.
"Não há nenhuma modificação genética na planta. É apenas seleção", destacou. Antes que serem plantadas no campo, as mudas de eucalipto ficam 90 dias no Viveiro, onde em uma das etapas passam por uma estufa.
Além do Brasil apresentar boas condições para a produção de eucalipto, o extremo sul da Bahia apresenta características naturais, que tornam os terrenos da região uma mina de ouro para o plantio da árvore. A região possui chuvas bem distribuídas durante todo o ano e solo bom, o que
permite ao eucalipto atingir a idade de corte em 7 anos.
A metade do tempo que a planta necessita para crescer em outros locais do mundo.
O eucalipto é tradicionalmente conhecido como uma árvore que suga a água e os recursos do solo, sem repor. Mas o engenheiro ambiental, Moacyr Fantini, garante que isto é um mito. Segundo ele, o mito teria surgido porque o eucalipto é a planta mais cultivada no mundo, e em
geral, se sobrepõe a outras plantas em locais onde tem boa adequação, mas não causa prejuízos ao meio ambiente.
Ele disse ainda que as plantações de eucalipto protegem os bolsões de Mata Atlântica preservados pela empresa, já que dificulta a retirada de madeira da Mata Atlântica. De acordo com o código florestal, as empresas devem destinar 20% de suas terras para a preservação da mata nativa da região.Além de áreas de preservação permanente.
Apesar da Veracel investir na proteção da natureza local, o Ibama da região está preocupado com a evacuação dos resíduos finais da produção da celulose. Segundo o gerente executivo do órgão que atende o sul e extremo sul da Bahia, José Augusto Tosato, o Ibama está estimulando que a empresa utilize o chamado circuito interno de circulação de água.
José Augusto Tosato explicou que com o sistema a água retirada do Rio Jequitinhonha para a fabricação da celulose, seja tratado e circule apenas dentro da fábrica e não volte mais para o meio ambiente. Segundo ele, em geral, a fábrica da Veracel deverá consumir cerca de 100 mil m3 de água por dia.
O Rio Jequitinhonha é federal. A maior parte do rio corta o estado de Minas Gerais e termina nos municípios baianos de Itapebi e Belmonte.
O gerente propõe ainda que haja um zoneamento das áreas de plantio de eucalipto, destinando locais para pecuária e outros plantios. "É uma forma de racionalizar o uso do solo da região e preservar a biodiversidade da região", disse.
Além das plantações próprias da empresa, donos de fazendas de gado da região estão plantando eucalipto para vender à Veracel. A iniciativa recebe o apoio da empresa. Ela dispõe financiamentos para os fazendeiros durante o processo de crescimento da árvore, até ela chegar a idade adulta.
Trinta fazendeiros já aderiram à iniciativa, o que equivale a mais 5,8 mil hectares plantados. Segundo o engenheiro Fantini, no futuro 20% a 25% do eucalipto utilizado pela fábrica virão das fazendas da região.
A Veracel foi fundada em 1991, após a união da brasileira Aracruz Celulose e a sueco-finlandesa, Stora Enso. A construção da fábrica de celulose no sul da Bahia é o maior empreendimento privado do governo Lula.
O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, participou hoje da inauguração do Centro de Qualificação Profissional da empresa, montado em parceria com os governos federal e estadual. O ministro disse que o empreendimento é a "cara e o pensamento do presidente Lula".
Mercado de celulose e papel no Brasil.
No ano passado, o Brasil produziu 9 milhões de toneladas de celulose, crescimento de 12,2% em relação ao ano anterior.Já o papel apresentou crescimento de apenas 1,6% em comparação com 2002, segundo informações da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). As
exportações dos produtos aumentaram 50%, chegando aos US$ 3,1 bilhões.
Investimentos em tecnologia permitiram as empresas nacionais aumentarem sua participação no consumo interno de papel reciclado. Elas são responsáveis por 44% - o equivalente a 3 milhões de toneladas.
Nos próximos dez anos, o setor pretende dobrar as exportações. Com este objetivo, os investimentos chegam a US$ 14,4 bilhões e poderão gerar 61 mil empregos. A idéia é elevar o saldo do setor a US$ 30 bilhões.