Rio, 4/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - O ex-presidente e embaixador do Brasil na Itália, Itamar Franco, fez hoje a entrega simbólica, ao presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Alberto da Costa e Silva, de escritos originais de Carlos Magalhães de Azeredo, um dos fundadores da Academia. O espólio contendo originais manuscritos e datilografados, provavelmente inéditos - que envolve dois livros de poemas, um de reminiscências e quatro ensaios sobre temas diversos envolvendo política, cultural e sociedade - contêm ainda impressões sobre variadas personalidades do mundo das artes.
Ao falar sobre a importância do legado, Itamar Franco destacou a figura do escritor, poeta e diplomata Carlos Magalhães de Azeredo, "um dos representantes legítimos da Casa de Rio Branco que pertence ao seleto grupo de escritores, diplomatas e acadêmicos, que contam também com figuras expoentes como Alberto da Costa e Silva, Afonso Arinos de Mello Franco e Sérgio Correa da Costa, que tem conferido, tradicionalmente, uma inestimável contribuição à cultura nacional".
"O simples gesto que hora faço, de entrega desse material, consubstancia para mim algo carregado de significado, por simbolizar uma homenagem que desejo prestar, tanto à cultura nacional como à diplomacia brasileira – ao Itamaraty e à Academia Brasileira de Letras".
Os documentos doados á ABL estão passando por um processo de higienização, e serão posteriormente encaminhados ao arquivo da ABL. É a partir desses documentos que o escritor Afonso Arinos de Mello Franco escreverá o terceiro volume a ser publicada pela ABL sobre o embaixador Carlos Magalhães de Azeredo. O primeiro, sobre as memórias do escritor até o final do século XIX, já foi publicado pela ABL, e o segundo, também escrito por Afonso Arinos, já está pronto e deverá ser lançado no ano que vem, e versa sobre as memórias de Azeredo da primeira e da segunda Grande Guerra Mundial, presenciada de perto por ele enquanto embaixador do Brasil na Itália.
Para Afonso Arinos, o legado entregue pelo ex-presidente Itamar Franco, achados na Embaixada do Brasil em Roma em meio a entulhos e coisas velhas, "é um acervo de extrema importância histórica, acadêmica e literária, na medida em que reflete tudo o que ficou inédito até agora de um velho acadêmico e embaixador".
Jornalista, diplomata, poeta, contista e ensaísta, Carlos Magalhães de Azeredo nasceu no Rio de Janeiro, em 7 de setembro de 1872, e faleceu em Roma, em 4 de novembro de 1963.
Dados dos arquivos da ABL sobre os imortais indicam que Azeredo foi um dos dez intelectuais convidados para integrar o quadro dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Escolheu para patrono Domingos Gonçalves de Magalhães, a quem coube a Cadeira n. 9. Foi o mais novo dos fundadores, aos 25 anos, e o último deles a falecer, aos 91 anos de idade.
Fez as primeiras letras no Colégio de São Carlos, no Porto, Portugal, de 1879 a 1880, continuando seus estudos no Colégio São Luís, de Itu, SP, onde ficou até 1887. Cursou a Faculdade de Direito de São Paulo, na qual se bacharelou em 1893.
Ingressou na carreira diplomática em 1895, ocupando os seguintes cargos: segundo secretário da Legação do Brasil no Uruguai (1895-96) e na Santa Sé (1896-1901); promovido a primeiro secretário em 1901 e conselheiro em 1911; ministro residente em Cuba, na América Central (1912) e na Grécia (1913-14); ministro plenipotenciário na Santa Sé (1914-19) e embaixador na mesma (1919-34).
Atingindo esse posto máximo da carreira de diplomata, Magalhães de Azeredo nele se aposentou, continuando, porém, a residir em Roma.
Aos 12 anos escreveu um pequeno volume de versos, "Inspirações da infância", que ficou inédito. Estudante, colaborou em diversos jornais em São Paulo e no Rio, onde residiu antes de seguir para Montevidéu, em função diplomática. Em 1895, publicou Alma primitiva, em prosa, e, em 1898, Procelárias, o seu primeiro livro de poesias.
Vivendo a maior parte do tempo no exterior, manteve-se em contato com Machado de Assis e Mário de Alencar, através de copiosa correspondência, que se encontra guardada no Arquivo da Academia. Tinha ele 17 anos quando dirigiu a Machado de Assis a sua primeira carta. Logo o mestre lhe reconheceu o valor, como poeta. Andando o tempo, fez mais o grande romancista: pôs nas cartas que lhe dirigiu as suas principais confidências de escritor, numa prova de confiança que não dera a outro amigo. Essa correspondência foi reunida pelo professor americano Carmelo Virgilio e publicada, em 1969, pelo Instituto Nacional do Livro. Magalhães de Azeredo também pertencia ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, à Academia Internacional de Diplomacia e ao Instituto de Coimbra.