Brasília, 8/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O tradicional horário de Verão, implantado no Brasil em 1931, mas que somente foi adotado todos os anos a partir de 1985, pode ter mudanças significativas este ano. Na última semana, a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, disse que o governo está estudando a possibilidade de flexibilizar o horário de verão, ou seja, deixar de adotá-lo em algumas regiões do país. O objetivo do governo é verificar se o sistema de energia atual tem condições seguras de operar sem a mudança. A partir dos resultados obtidos, o governo vai definir quais locais poderão ficar sem adiantar o relógio em uma hora.
A medida tem como objetivo aproveitar melhor a luz natural do entardecer e assim aliviar o sistema de energia do país. O horário também é utilizado como forma de reduzir a demanda de energia no período de maior consumo, que vai das 18h às 21h, o chamado "horário de pico". Durante os quatro meses em que o horário é adotado, em geral de outubro a fevereiro, a redução no período mais crítico varia de 4% a 5%.
Não há previsão para a entrega dos estudos do ministério, mas há quem defenda que o horário deva permanecer, como o deputado Moreira Franco (PMDB – RJ). O integrante da Comissão de Minas e Energia da Câmara acredita que o horário é uma excelente forma de educar a população sobre a necessidade de se economizar. "A energia é um bem escasso e caro. Hoje, com a cobrança do ICMS, se torna muito mais oneroso para o contribuinte", ressaltou.
A opinião não é acompanhada pelo deputado Fernando Ferro (PT-PE), que também faz parte da Comissão. De acordo com o deputado, a mudança no horário causa mais transtornos do que beneficia o país. " A economia é muito pouca e poderia ser atingida se fossem realizadas campanhas de racionalização do uso da energia na época do verão", disse.
De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a redução do consumo de energia de 1985 a 2001 registrou média de aproximadamente 1%. O verão de 1991/1992 foi o que apresentou o maior índice 2,6%, e de 2002 a 2003, o menor, 0,2%. No verão passado, a redução no horário de pico foi 4,5%.
O consultor em energia, Armando Franco, da consultoria privada Tendências (SP) considera também o horário de verão dispensável. Segundo ele, o sistema de energia do país tem condições de atuar sem a mudança. "Hoje está sobrando energia por causa da redução da demanda e a crise econômica", explicou.
Para Franco, a principal vantagem do horário é o fato de dividir o período de maior consumo de energia. " Acontece uma defasagem no momento de chegada das pessoas em casa", ressaltou.
Apesar de antigo, o horário de verão ainda divide as opiniões e o humor da população. Há os que gostam e aqueles que não vêem a hora dele acabar. A estudante Gerlane Alves integra o último time. Para ela, acordar com as luzes da cidade ainda acesas é um verdadeiro sacrifício. "Levantar mais cedo é a pior coisa", justificou. Já o administrador de empresas, Humberto Ricardi, acredita que a perda de alguns minutos de sono são compensados com o encontro com os amigos depois do trabalho. " É uma ótima oportunidade para nadar ou correr também".
O Ministério de Minas e Energia, em breve, deve anunciar a data de início do horário especial para este ano. Ele é implantado por decreto do Presidente da República, com base em informações do Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS, a partir dos dados, é definido em quais locais o horário será adotado. França, Canadá e Estados Unidos são outros países que também mudam o horário convencional, como forma de economia de energia.