Unicef e Pastoral da Criança apontam assentamento no Distrito Federal como área de risco infantil

12/07/2003 - 13h09

Brasília, 12/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - A Vila Estrutural, assentamento localizado a cerca de 15 quilômetros de Brasília, foi catalogada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Pastoral da Criança como uma das 32 localidades de risco no Brasil. No lugar, não há asfalto, escola, infra-estrutura, nem saneamento básico. O resultado de tanta pobreza são crianças doentes e desnutridas.

Na manhã deste sábado líderes comunitários, deputados distritais, representantes do governo e de organizações não-governamentais se reuniram para discutir a situação e alertar à sociedade para os problemas do assentamento. Eles participaram do seminário "Criança – Semente da Paz", realizado no salão da Capela Nossa Senhora da Esperança, na Estrutural.

"Os membros da comunidade querem o apoio do governo para eliminar o risco em um prazo de quatro anos. Este é um trabalho a médio e logo prazos. Não adianta alimentar a criança, achar que ela está gordinha e deixar por isso mesmo. É preciso fazer todo um acompanhamento", disse Marcelo Almeida, multiplicador de políticas públicas da Pastoral da Criança do DF.

A principal decisão tomada no seminário foi a de captar mais voluntários para combater os problemas do assentamento. Atualmente, a Pastoral da Estrutural conta com 36 voluntários que percorrem as ruas do local em busca de crianças com peso abaixo do considerado normal para a idade.

"Nós fazemos visitas domiciliares, pesamos as crianças e fornecemos a multimistura, que é uma farinha bastante nutritiva feita de arroz, fubá, folhas de mandioca e de abóbora, semente de girassol e casca de ovo", explicou a moradora e coordenadora paroquial da Estrutural, Adriana Lima. A equipe dela atende hoje a 428 crianças com problemas de saúde.

A multimistura foi fundamental no crescimento de Crislene Pinto, de apenas dois meses. Ela nasceu com dois quilos e 200 gramas. Hoje está com pouco mais de três quilos. Ainda não atingiu o peso ideal, que seria de quatro quilos. Mas a líder comunitária Adriana Lima espera que a menina cresça e leve uma vida saudável o mais rápido possível.

Na casa de Crislene, uma cena comum na Estrutural se repete. No barraco de madeirite, dividido em quatro cômodos com lençóis, vivem 11 pessoas. Das cinco crianças, três são desnutridas. Quem toma conta de tudo é a mãe adotiva de Crislene, a dona-de-casa Norberta Pinto, de 45 anos. A única renda da casa é o salário de R$ 230 do marido de Norberta, que é gari.

Diante da rua de terra vermelha, Norberta não perde as esperanças. "Deus toma conta da gente. Só quero que meus filhos cresçam saudáveis."

Em todo o Brasil, trabalhos semelhantes estão sendo desenvolvidos. Quem quiser ser um voluntário deve procurar alguma representação da Pastoral da Criança.
(Noéli Nobre)