São Paulo, 10/7/2003 (Agência Brasil - ABr) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve dar a máxima atenção à relação com os países da África, que têm grande expectativa em relação à política que o Brasil vai desenvolver com eles. Essa afirmação foi feita pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos, professor da Universidade de Coimbra e uma das vozes mais influentes do Fórum Social Mundial.
Para Boaventura, o governo brasileiro deve ter uma atitude diferente daquela do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não enfatizou essa relação. "O ex-presidente negligenciou sempre essa área de relação com países africanos de língua portuguesa", afirmou Boaventura, em entrevista exclusiva ao programa Revista Brasil da Radiobrás.
O presidente Lula está em visita a Portugal, onde ficará até sábado, e viajará para a África em agosto. Nestes dias, o presidente dos EUA, George W. Bush, está efetuando uma visita em vários países africanos, entre os quais a África do Sul.
De acordo com Boaventura, a inédita viagem de um presidente norte-americano para aquele continente pretende amenizar a péssima imagem internacional dos Estados Unidos após a invasão ao Iraque, mas visa também dividir a Europa, que sempre deu muita atenção à África. "Bush estaria tentando neutralizar a Europa com essa visita", disse.
Para o sociólogo, Lula vem tentando estimular na opinião pública mundial a idéia de que é preciso mudar o modelo de desenvolvimento econômico global, dando maiores oportunidades aos países em desenvolvimento. O professor disse ainda que Lula quer aumentar a credibilidade do Brasil no exterior ao mostrar que "internamente não está envolvido em nenhuma mudança radical do sistema".
O sociólogo definiu como hipócritas as regras de comercialização impostas por países desenvolvidos, que sugerem a abertura de mercado, mas continuam a praticar o protecionismo em seus países, o que ocorre principalmente na Europa e nos Estados Unidos. "O presidente Lula tem feito um esforço enorme de tentar mostrar que isso, além de ser uma hipocrisia, é uma enorme injustiça social a nível global", disse.
Álvaro Buffarah e Mariane Rodovalho
