Guerra pode abrir precedente para solução armada de conflitos entre as nações, afirmam especialistas

21/03/2003 - 23h40

Brasília, 21/3/2003 (Agência Brasil - ABr) - A decisão dos Estados Unidos de atacar o Iraque sem o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) pode abrir um precedente para a solução armada de conflitos entre as nações. Essa é a avaliação feita pelo cientista político Ricardo Caldas, pelo economista Newton Marques e pelo antropólogo José Jorge Caldas, em debate realizado pela NBr, canal a cabo da Radiobrás.

"A partir do momento que um organismo multilateral, como a ONU, decide determinadas prerrogativas e deveres e eles não são respeitados, amanhã não saberemos qual será o próximo passo dos Estados Unidos ou de outros países", explicou Newton Marques.

"Em geral, vemos que os conflitos surgem por interesses econômicos. Se o maior país do mundo não segue essas diretrizes, isso deixa uma grande lacuna em relação ao futuro", acrescentou ele.

Para o cientista político e doutor em Relações Internacionais, Ricardo Caldas, o grande desafio internacional do momento é superar a crise de legitimidade que os organismos internacionais enfrentam.

Segundo ele, a grande desigualdade entre os países dentro da ONU já vinha sendo questionada antes do conflito norte-americano com o Iraque.

"A própria existência do Conselho de Segurança sempre foi muito questionada. Ele é uma contradição aos princípios de igualdade previstos e pregados pela ONU porque não é qualquer país que pode fazer parte", disse Caldas.

Para José Jorge, a sede da organização deveria ser transferida dos Estados Unidos mesmo que ela seja considerada território neutro.

"As forças aliadas, na verdade, são os mais de cem países que defendem a paz. Precisamos descobrir como construir um contra-poder ao poder militar americano capaz de impedir novas tentativas de invasão", defendeu o antropólogo.

Na avaliação de Newton Marques, uma das conseqüências dessa guerra será a desconfiança, em relação ao dólar, por parte das nações que usam a moeda americana nas negociações internacionais.

"Os países podem chegar a abandonar o dólar como moeda padrão. Isso pode gerar mais conflitos, porque os Estados Unidos sempre conseguiram se impor por meio de uma moeda forte", afirmou ele.