Frei Betto: o que mais mata no mundo é a fome

27/01/2003 - 20h27

Porto Alegre, 27/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - A fome é o fator que mais ameaça o ser humano no planeta. Dados do Banco Mundial revelam que dos mais de 6 bilhões de habitantes do planeta, 4 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, sendo que destes, 2,8 bilhões estão na linha da pobreza e 1,2 bilhão abaixo da linha da miséria. As informações foram dadas pelo assessor do Programa Fome Zero, Frei Betto, que participa do III Fórum Social Mundial.

Segundo ele, o que mais mata no mundo é a fome. Frei Betto disse que existem várias fundações e programas de combate à AIDS, o que é necessário, mas não tem conhecimento de uma fundação de combate à fome. Ele imagina que isso ocorra porque a AIDS é uma doença que não faz distinção de classe, enquanto a fome atinge apenas os pobres. "Por que não há a mesma mobilização contra a fome? Pelo cinismo de todos nós que não passamos fome", destacou.

Frei Betto considera importante que se faça uma campanha de combate à fome na África, porque naquele continente a fome convive com a penúria. Ele disse que no Brasil a situação é grave onde a fome convive com a fartura. "Isso é um escândalo e ofensa a Deus", afirmou. Ele defende uma grande mobilização mundial para evitar que a fome continue sendo a principal dama que semeia a morte.

Frei Betto disse que a equipe do programa Fome Zero tem um companheiro que vai cuidar das relações internacionais e contatos com embaixadas. Ele contou que a primeira contribuição estrangeira ao programa foi de um cidadão dos Estados Unidos, que enviou à embaixada do Brasil em Washington um cheque de 25 dólares.

"No Brasil chegamos no governo, mas não no poder", disse ele, acrescentando que o governo tem a responsabilidade histórica de corresponder à expectativa do povo no campo social, sendo essa a prioridade atual, com um princípio humanitário. Ele disse ainda esperar que se consiga realizar as cinco reformas apontadas na campanha eleitoral e que foram assumidas como compromisso de governo: tributária, previdenciária, agrária, política e trabalhista; além de assegurar que o brasileiro tenha, no mínimo, três refeições diárias. "Se conseguirmos isso, será um grande avanço", frisou.

Frei Betto destacou também que o Fome Zero é um programa de inclusão social e não assistencialista. Quanto às críticas que o projeto vem recebendo, ele disse que são prematuras, uma vez que ainda nem foi lançado, mas que mesmo assim isso já vem ajudando a divulgar o programa. "Se a esperança venceu o medo, o amor deve vencer a fome", concluiu.