Porto Alegre, 26/1/2003 (Agência Brasil - ABr) - O teólogo brasileiro Leonardo Boff, autor da teologia da libertação, invocou a Oração de São Francisco para finalizar sua palestra realizada há pouco, no ginásio Gigantinho, no 3° Fórum Social Mundial. Com isso, o teólogo pediu à platéia que direcionasse suas energias positivas ao edifício da Organização das Nações Unidas (ONU), em Manhatan, onde será entregue amanhã (27) o relatório dos inspetores da ONU sobre a capacidade bélica do Iraque.
"Quando os religiosos do mundo se reúnem, esquecem-se de suas diferenças e se juntam ao redor dessa oração, que é a oração universal pela paz", afirmou Boff que, em seguida orou: "Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houve tristeza, que eu leve alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado, compreender que ser compreendido, amar que ser amado, pois é dando que se recebe. E é perdoando que se é perdoado. E é morrendo que se vive para a vida eterna. Obrigado e amém", finalizou dirigindo-se à platéia.
Boff pediu a concentração de energia para que o relatório propicie a paz e torne a jornada do presidente norte-americano George W. Bush, de "destruir a terra", inócua. Os caminhos da paz, registrou Boff, são tortuosos, mas a humanidade não pode ter medo de construí-la.
O teólogo citou o aprendizado que se toma das ciências de que o universo surgiu de uma explosão, há 15 bilhões de anos. A explosão produziu um caos, uma confusão inicial que se tornou depois em ordem, com a expansão do universo. Veio o cosmos que, conforme relembrou Boff, quer dizer algo bonito e é, por isso, por exemplo, que a palavra cosmético significa algo que deixa alguém mais bonito. Ele conclamou a todos, movimentos sociais ou não, a fazer dessa beleza a voz do universo.
É verdade que o ser humano também aprende a crueldade, mas Boff acredita na capacidade do homem viver em cooperação, numa grande rede, pela paz e pelo resgate de valores humanos. Ele lembrou a cooperatividade com que viviam os antepassados do homo sapiens, que dividiam o produto da caça com todos. Por isso, ele propôs opor a cooperatividade à competitividade, que mata o ser humano e destrói o planeta. Para Boff, é preciso resgatar também uma característica básica do ser humano, que é a de cuidado, proteção. "Proteção e cuidado com o próximo, e Jesus disse que o próximo é aquele que se aproxima de ti, cuidado com a terra que é nossa morada, é disso que precisamos", concluiu.