Brasília, 23/11/2002 (Agência Brasil - ABr/CNN/Lusa) – A onda de protestos contra o concurso de Miss Mundo na cidade nigeriana de Kaduna, que causou mais de 100 mortes e deixou 500 feridos, provocou o cancelamento do evento marcado para o dia sete de dezembro. O concurso foi transferido para Londres. As informações são da CNN e da agência Lusa.
A fúria dos manifestantes muçulmanos foi desencadeada por um artigo publicado pelo jornal local "This Day", afirmando que as candidatas eram tão bonitas que até mesmo o profeta Maomé gostaria de se casar com uma delas. A reportagem foi considerada uma blasfêmia pelos muçulmanos.
Dezenas de lojas, quatro igrejas e dois hotéis foram saqueados e incendiados, e pelo menos 15 automóveis ficaram destruídos durante os protestos. "Os manifestantes bloquearam as estradas, viraram carros e invadiram as lojas", disse um morador da cidade onde distúrbios sectários, dois anos atrás, mataram milhares de pessoas.
Tropas de choque ocuparam Kaduna. Não houve comunicado oficial sobre o total de vítimas no distúrbios, mas a Cruz Vermelha local disse ontem (22), que o número de mortos era de pelo menos 105 e poderia aumentar.
Segundo um funcionário do jornal local, os grupos fundamentalistas tentaram invadir o prédio do jornal, que estava sob proteção policial, fazendo com que todo o pessoal da redação pulasse o muro dos fundos para buscar refúgio na casa vizinha, de um muçulmano. O artigo foi publicado na quarta-feira e o jornal retratou-se imediatamente no dia seguinte, com um pedido de desculpas na primeira página. Mas de nada adiantou.
O concurso já era motivo de controvérsia desde que foi anunciada a sua realização no país, sendo denunciado por fundamentalistas como "um desfile de nudez". Houve problemas também entre várias das candidatas que ameaçaram não participar do desfile se fosse mantida a condenação à morte, por pedradas, de uma mulher acusada de adultério.
Depois de garantias do governo nigeriano de que nenhuma pessoa seria apedrejada, cerca de 90 concorrentes chegaram à Nigéria, na semana passada, e muitas fizeram declarações públicas de solidariedade às mulheres condenadas por adultério.
O próprio presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, mostrou-se relutante na semana passada e cancelou um encontro com as candidatas, por temer que isso fosse considerado ofensivo pelos muçulmanos.