Economia do conhecimento pode oferecer solições para o semi-árido, informa o Banco do Nordeste

19/07/2002 - 16h54

Brasília, 19 (Agência Brasil - ABr) - A chamada economia do conhecimento, em que as vantagens competitivas são determinadas, sobretudo, pela qualidade do capital humano e o conhecimento que ele é capaz de gerar, é a grande alternativa para o Nordeste se inserir na nova economia mundial, cada vez mais dirigida por blocos, ou regiões, e não mais por países isolados. Essa foi uma das conclusões do 1º painel de hoje do Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento, que teve início ontem, e constitui o marco das comemorações do cinqüentenário da empresa.

O Fórum acontece em paralelo ao VII Encontro Regional de Economia, uma parceria do Banco com a Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec). À tarde, o evento será realizado em sistema de videoconferência, com a participação de todas as capitais do Nordeste e Montes Claros (MG), com clientes e outros convidados assistindo, via intranet, por meio de telões. Reunidas em auditórios nas 174 agências do Banco e nas principais capitais brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília), essas lideranças poderão interagir diretamente, ao vivo e on line, com os conferencistas do Fórum.

Participaram do painel, intitulado "A inserção do Nordeste no Novo Regionalismo Mundial", o representante no Brasil do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Waldemar Wirsig, o especialista setorial do BID, Jaime Mano Júnior, o professor do Centro de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (Caen), Flávio Ataliba, o economista do Banco Mundial, Antônio Rocha Magalhães, o professor do Departamento de Economia da UNICAMP, Luciano Coutinho e o professor da Universidade de Illinois, Geoffrey Hewings. 

O professor Flávio Ataliba apresentou uma pesquisa em que o a divisão do mundo em países pobres e países ricos está diretamente associada à capacidade ou não de dotação de capital humano e geração de tecnologia. "Um clube de convergência entre países com características semelhantes vem acontecendo, e é a capacidade de gerar tecnologia que faz com que o mundo seja bipolar". 

Ataliba aplicou a pesquisa ao Brasil e o mesmo padrão de distribuição da renda per capita entre os Estados foi encontrada. "Também há uma bipolarização nos estados brasileiros. Fiz uma comparação entre os estados, em relação à São Paulo, em cima de um perfil educacional traçado, e a divisão em dois grandes blocos foi mantida", disse. O professor propôs uma mudança de política pública para a Região. "Se tivemos, no passado, políticas públicas fortemente ligadas à atração de capital financeiro, hoje, elas precisam estar ligadas à captação de conhecimento e tecnologia, à dotação de conhecimento", concluiu. 

O professor da Unicamp, Luciano Coutinho, pesquisador de economia industrial, iniciou sua palestra agradecendo ao Banco do Nordeste pelo convite e lembrando a importância da instituição no processo de investimentos na Região. Segundo ele, o Nordeste tem vantagens competitivas como recursos naturais, mas necessita de um maior investimento no setor de tecnologia, ressalvando, no entanto, os grupos nordestinos de excelência nas áreas de bioquímica, física, medicina e biologia.  

"O nosso desafio, portanto, é não abandonar as velhas bases de competitividade, como os recursos naturais, minerais, indústria tradicional e serviços, agregando valor a eles", afirma Coutinho, enfatizando a necessidade de novos instrumentos fiscais e da inclusão da tecnologia de ponta. Segundo o pesquisador, é preciso criar novas oportunidades em cadeias existentes. "Nesse aspecto, quero parabenizar o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), órgão vinculado ao Banco do Nordeste, pelos importantes estudos setoriais que mostram as oportunidades concretas da Região", assinala. 

Coutinho afirma que a nova competitividade requer investimentos em tecnologia da informação, como softwares e biotecnologia aplicada a negócios. "Somente na produção de softwares no Brasil, temos um déficit de R$ 1,2 bilhões", afirma. A solução proposta pelo pesquisador é conjugar a base empresarial com a tecnológica, reorientar completamente a política de incentivos, fazer escolhas e inovações com o apoio do Governo Federal, construindo novas bases de competitividade. "Isso significa colocar o Nordeste como ator na economia do conhecimento", finaliza.