Tubarões já atacaram em todos os estados litorâneos do país
Há registros de ataques das espécies tigre e cabeça-chata, os mais perigosos nas águas tropicais depois do tubarão branco
Brasília, 12 (Agência Brasil – ABr) - A maior parte dos tubarões são carnívoros, mas os registros indicam que só cerca de doze espécies já estiveram envolvidas em ataques a humanos. No Brasil, especificamente, são extensos os registros de aparições dos Carcharhinus leucas, popularmente conhecido como cabeça-chata, e de tubarão tigre. Eles normalmente atacam de baixo para cima com uma mordida muito forte tentando imobilizar a presa de início. Para rasgar os tecidos, uma vez a vítima presa, balançam a cabeça vigorosamente. São espécies que vivem de 25 a 30 anos e estão quase sempre nas proximidades das praias, propiciando o encontro com o homem.
Há quem garanta que esse encontro é perigoso, provavelmente o mais perigoso das águas tropicais depois do tubarão branco, pois as duas espécies comem de tudo, inclusive pessoas. Mas de acordo com o Biólogo Marinho e diretor do Instituto Ecológico Aqualung do Rio de Janeiro, Marcelo Szpilman, eles normalmente mantém uma dieta de peixes, e em 90% dos acidentes há erro de identificação. "Por esse motivo é que eles dão uma mordida no homem e ao perceber o engano se afastam. Isso porque a boca funciona mais ou menos como o tato", explica.
Já para o biólogo e professor da Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos (SP), Otto Bismarck, essa é uma idéia que foi muito divulgada nos Estados Unidos e "aceitar isso universalmente não é correto". Ele diz que os tubarões "pode sim atacar por engano, mas isso não é muito provável. O que pode acontecer é que com a diminuição das espécies marinhas no nordeste, por exemplo, qualquer coisa que possa enviar um estímulo atraente faz com que o tubarão ataque para experimentar novas possibilidades de alimentos", ressalta Bismarck.
Bismarck afirma ainda que para um animal que está acostumado a detectar sua presa, é complicado dizer que ele se engana tanto assim. "O que podemos dizer é que pelo fato do homem não ser um alimento natural deles, é provável que ao morder, o tubarão não goste e por isso recue. É como se ele soubesse desde o início que era um ser humano, mas na falta de comida quis experimentar e não gostou do sabor", compara ele.
Segundo Szpilman, o grande número de ataques no nordeste brasileiro, especialmente em Pernambuco, se deve principalmente à construção do Porto de Suape, em 1989, ao sul de Recife, resultando em um grave impacto ambiental e num acentuado aumento no tráfego marítimo. "Os tubarões costumam seguir grandes embarcações e navios, atraídos pelos restos de alimentos e dejetos lançados ao mar. Essas embarcações também contribuem para a redução de uma parte da vida marinha, provocando escassez de alimentos. Outro fator é o grande fluxo de surfista nessa região que, além de proporcionar um maior o número de encontros, aumenta a possibilidade de ataques, dificulta a visibilidade dos tubarões ao deixarem a água turva", ressalta Szpilman.
Para Bismarck o nordeste já era uma região de habitat dos tubarões antes da construção do porto. "Diferentemente de outros portos no país, o de Suape destruiu rebanhos de corais, queimou mangue e fechou bocas de rios que chegavam até o mar, ou seja, a destruição da cadeia alimentar foi muito grande propiciando o crescente número de ataques em busca do escasso alimento", analisa ele. O professor também aponta que o sangue ou até mesmo a urina pode atraí-los pelo odor. "O tubarão possui uma bateria sensorial muito apurada localizada na cabeça. O simples balanço das pernas de um surfista sentado na prancha pode ser detectado por suas linhas laterais que captam vibrações como radares", conclui.
A sequência de acidentes, principalmente na praia da Boa Viagem, começou em 1992. "Todos os nossos estados litorâneos já tiveram acidentes com tubarões. No Rio de Janeiro e São Paulo, por exemplo, eles são explicados pela densidade demográfica. Na região sudeste e sul, quase todos os ataques ocorreram no verão, pois há maior número de turistas. Mas é difícil estabelecer um padrão, pois a costa brasileira é muito grande", observa Bismarck. De acordo com Szpilman, estatísticas apontam Pernambuco como o segundo estado de maior número de ataques no mundo, sendo o primeiro a Flórida, nos Estados Unidos. Já Bismarck diz que hoje isso não é real e que essa condição foi firmada em 1994. "Para se ter uma idéia, já tivemos mais ataques no Rio de Janeiro do que no Nordeste", lembra ele.
Dados sobre esse assunto, estudos sobre ataques a mergulhadores, entre outros registros, são encontrados no Arquivo Internacional de Ataques do museu da Universidade da Flórida. Para apuração dos fatos, há uma comissão mundial formada por um representante da África do Sul, um da Austrália, um dos Estados Unidos e um do Brasil. "Esses são os países de maior índice de incidentes, sendo que o Brasil está incluído por registrar os ataques mais importantes dos últimos anos", explica Bismarck, que além de ser biólogo, e professor da Universidade, é o representante brasileiro nessa comissão mundial. (Cecília Resende)
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Odontologia de Bauru estuda medidas terapêuticas e preventivas da doença da cárie
A falta de informação dos pais pode ser a responsável pelo aumento do número da cárie nos filhos
Brasília, 12 (Agência Brasil – ABr) - Atitudes como soprar a papinha para esfriar, beijar na boca do bebê, sociabilizar a escova de dente, ou até mesmo conversar muito próximo da criança levam à transmissão dos microorganismos da cárie (estreptococos do grupo mutans). Ao nascer, a flora bucal do ser humano não possui bactérias cariogênicas, e quanto mais cedo esse contágio ocorrer, mais cáries a criança desenvolverá, dependendo também da suscetibilidade para a doença e do tipo da alimentação.
A cárie dentária é uma doença dos tecidos calcificados dos dentes, que se caracteriza pela desmineralização da porção inorgânica e pela destruição da substância orgânica do dente. "As bactérias (microorganismos que vivem na nossa boca), se fixam nos dentes formando uma película muito fina que chamamos de placa bacteriana. As bactérias que formam essa placa alimentam-se principalmente do açúcar que ingerimos com os alimentos e quando não são removidas por meio da escovação e do uso do fio dental, se desenvolvem bastante. Como resultado da metabolização (digestão) do açúcar, a placa bacteriana produz ácidos que destroem o esmalte dos dentes", explica o professor da Faculdade de Odontologia da Universidade de Brasília (UnB), Orlando Airton.
O que se deve fazer é o possível e o impossível para eliminar a atividade das bactérias. "Sempre haverá bactérias na boca, mas é fundamental mantê-las em baixo número para evitar a cárie", aconselham alguns pesquisadores, que também indicam o hábito de mascar chicletes sem açúcar para aumentar o fluxo salivar, eliminando os efeitos dos ácidos liberados pelas bactérias. Além disso, os minerais que formam os dentes estão presentes na saliva e, com maior produção, há maiores chances de o esmalte tornar-se resistente à ação dos ácidos.
Diante do crescimento do número de crianças que apresentam a doença e do conhecimento de que esse contágio da mãe para o filho é um dos responsáveis pela cárie, a Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB), da Universidade de São Paulo (USP) pesquisa medidas preventivas para as mães diminuírem as bactérias na boca, além de determinarem o momento da infecção nas crianças. "A transmissão depende do grau de infecção do doador, da freqüência do contato, e da resistência da criança", explica uma das colaboradoras do projeto, professora e odontopediatra Salete Moura Bonifácio da Silva.
O trabalho então surgiu em outubro de 2001 a partir das idéias do americano Walter Loesh, especialista em microbiologia oral. "A idéia não vingou nos Estados Unidos porque não encontraram mães "milionárias", ou seja, que possuem em torno de um milhão de estreptococos por mililitro de saliva", ressalta Salete. A proposta era fazer um trabalho de observação com as mães milionárias, consequentemente com alto poder de transmissão; que fossem primíparas (mães de primeira viagem); e também a principal cuidadora do bebê, não trabalhando fora de casa.
Assim, o projeto veio para o Brasil sob a direção do professor da Universidade de Pittsburgh, o brasileiro Walter Bretz, e pela microbiologista e professora da USP, Odila Pereira, e a coordenação dos professores Salete Moura e Aymar Pavarini. "O trabalho é extenso e caro, e por isso foi feito um convênio, no qual a USP oferece as instalações físicas e a compra de matérias permanentes e o restante é pago por uma bolsa do Instituto Nacional de Pesquisa de Cárie Dentária dos Estados Unidos", conta Salete.
Esse financiamento, entre outras coisas, custeia dois dentistas, um técnico e uma secretária que foram contratados para fazer o tratamento, a análise e os exames microbiológicos da saliva das transmissoras. Também paga as mães que participam do projeto e são divididas em dois grupos. As pacientes do grupo 1, recebem aplicação de flúor nos dentes, prescrição de uso de chicletes com xilitol, e dependendo do nível de bactérias cariogênicas, um verniz à base de clorexidina. As mães do grupo 2 recebem o tratamento odontológico tradicional e apenas substâncias placebo (medicamento inerte utilizado em trabalhos de pesquisas) no lugar do chiclete e do verniz.
Além do Brasil, cientistas da Holanda, Inglaterra e Suécia vêm investindo no assunto. Segundo a revista on-line Ciência Hoje, do último dia 4, foi publicado um artigo na Nature Biotechnology informando que bactérias encontradas na boca e intestino – os lactobacilos – podem ajudar a combater a cárie se modificadas geneticamente. Esses estudiosos introduziram fragmentos do gene do camundongo, que se liga à molécula da membrana bacteriana e impede a adesão do microrganismo ao dente.
Esse trabalho está ainda em fase de pesquisa, até porque não foi testado em seres humanos, porque existem regulamentações que precisam ser consideradas antes que isso seja feito. Já a pesquisa da FOB está em processo de teste em pessoas, mas, segundo Salete, ainda não há dados conclusivos. "Hoje fazemos um trabalho científico. Futuramente, se esses métodos de prevenção forem eficazes, haverá uma utilidade prática, até porque a aplicação dessas substâncias são muito simples", ressalta Salete. (Cecília Resende)
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Nanotecnologia exige a integração entre diversas áreas da ciência
Ela obriga que os profissionais tenham interesses por outras áreas de conhecimento e trabalhem em grupos multidisciplinares
Brasília, 12 (Agência Brasil - ABr) – É necessário conhecer a configuração das ligações dos átomos para conhecer cada substância e assim, criar novos materiais. Mas como é possível conhecer algo tão pequeno, que o olho humano não tem capacidade de enxergar diretamente? Justamente por não podemos ver as configurações atômicas a olho nu, é necessário desenvolver métodos que permitam "olhar" esse universo microscópico. Nesse caso, as simulações computacionais permitem entender como os átomos se ligam. Compreender esses liames é muito importante para uma nova área da ciência, a nanotecnologia. Um dos seus objetivos é manipular átomos em escalas muito reduzidas, no caso, as escalas nanométricas ou atômicas, de 10-9 metros.
Segundo o pesquisador João Francisco Justo Filho, do Laboratório de Microeletrônica (LME) do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos (PSI), da Escola Politécnica (Poli), da USP, a nanotecnologia tem caráter multidisciplinar, já que é possível a sua aplicação em outras áreas do conhecimento, pois todas as substâncias são formadas por moléculas. Por exemplo, a nanotecnologia pode envolver a biologia, manipulando as moléculas que compõem determinado medicamento. Por causa da multidisciplinaridade, é necessário hoje um biólogo saber mais física do que há trinta anos, ou possível que engenheiros comecem a manipular DNA na tentativa de fabricar um transístor.
Ainda segundo Justo Filho, o marco inicial da nanoletrônica foi em 1985, com a descoberta das bolas de carbono. Estas são compostas por 60 átomos dispostos de tal maneira que seu formato parece com uma bola de futebol. Este formato é o mais estável, pois a natureza tende a se configurar nos estados que requerem menos energia.
Mas é necessário que as descobertas da nanotecnologia sejam mais do que conhecidas e entendidas, elas precisam ser reproduzíveis. Só por meio da reprodução em laboratório é que as descobertas têm utilidade à ciência dos materiais, especializada em desenvolver materiais adequados às mais diversas necessidades. Por exemplo, o material que compõe a turbina de um avião precisa ser resistente a variações de temperatura, pois em elevadas altitudes, a temperatura é baixa enquanto o dispositivo se torna mais quente. Se o material não for resistente, ele trinca, como um copo quente que entra em contato com a pia gelada. Por fim, é necessário que a reprodução dos materiais seja economicamente viável para que possa chegar ao consumidor, ou seja, o material da turbina não pode encarecer o custo total do avião. (AUN/USP)
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http://www.radiobras.gov.br/ct/2002/materia_140602_1.htm
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http://www.radiobras.gov.br/ct/2002/materia_140602_4.htm
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Desuniformidade de fertilizantes desequilibra a produtividade agrícola
Em 30 anos a aplicação desses produtos quadriplicou nas 16 principais culturais cultivadas no país
Brasília, 12 (Agência Brasil - ABr) - No intuito de aumentar a produtividade agrícola, cada vez mais os agricultores têm recorrido ao uso de fertilizantes em suas lavouras. Desde 1970, quando foi implantado o Programa Nacional de Fertilizantes de Calcário (PNFCA), a aplicação desses produtos nas 16 principais culturas brasileiras praticamente quadruplicou. Os fertilizantes minerais podem ser encontrados em quatro diferentes formas: granulados, misturas de grânulos, pó ou farelados. Por seu menor custo e versatilidade, a utilização da mistura de grânulos tem aumentado nos últimos tempos. Entretanto, a forma como é comercializada, em big bags, sacos com capacidade para mil quilos, gera diferenças na uniformidade do produto, o que pode acarretar problemas no momento de aplicação no campo.
Este é o assunto sobre o qual trata a tese de doutorado de Fernando José Pereira de Campo Carvalho, apresentada recentemente à Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), orientada pelo professor Gil Anderi da Silva, do Departamento de Engenharia Química.
Por meio de uma análise feita utilizando dois tipos de potássio com diâmetros médios diferentes, o estudo trata de métodos de amostragens para a avaliação do problema. A técnica desenvolvida é aplicada em dois momentos diferentes: após o ensaque do material e, posteriormente, durante a aplicação no campo.
No primeiro momento, a amostragem é feita por zonas dentro do big bag, por meio de uma sonda inserida verticalmente que recolhe amostras dividindo-as em quatro faixas de 20 cm de altura cada, nas quais são analisadas as proporções de cada nutriente. No campo, são coletados fertilizantes despejados em parcelas de cinco metros de linha nos dois bicos externos da adubadora, nas distâncias de 500, 1500, 2500, 3500 e 4500 metros.
Como conclusão do estudo, que se utilizou de produtos oferecidos por sete empresas diferentes, obteve-se uma grande variação na composição química dos big bags, e também nas amostras coletadas durante a aplicação no campo. Isso reforça as dificuldades de oferecimento dos fertilizantes em big bags, que pode comprometer a produtividade da lavoura.
Além disso, Fernando detectou também uma clara diferença entre os produtos oferecidos pelas diversas empresas, deixando evidente a importância do estudo para o aumento da produtividade e melhor aplicação da utilização das misturas granuladas minerais como fertilizantes agrícolas. (AUN/USP)